Categorias: Crônicas

O dia do meu casamento

Hoje acordei de um sonho muito real. Nele eu me preparava para o dia do meu casamento. Eu me lembro do toque do tecido do vestido no meu corpo. Eu me lembro do cheiro das flores. Lembro-me do vento que batia no meu rosto enquanto eu esperava para entrar na igreja. Era um dia feliz com certeza, mas o sonho não começava assim.

Antes que eu pudesse estar impecável para caminhar para o altar, um pandemônio acontecia. No sonho eu tinha uma reação alérgica, não se sabe ao que, e ficava com o lábio inferior extremamente inchado. Eu parecia um pato fantasiado de noiva. No meio daquele caos, me  lembro de ser confortada pela minha mãe. Ela calmamente pegava nos meus ombros e me dizia que ia ficar tudo bem. Que se eu quisesse, eu casaria como o pato fantasiado de noiva mais lindo que ela já viu. Ou ainda que cancelaríamos tudo e que voltaria a me casar em um dia que estivesse com os lábios humanamente conhecidos.

O sonho continuava num ritmo acelerado do tipo “preciso entrar na igreja a qualquer custo”. Numa parte do sonho, eu lembro que minha mãe dirigia enlouquecida até uma farmácia, enquanto meu pai ficava comigo no carro, segurando na minha mão, me distraindo do pânico que tomava conta das minhas bodas. Ele me perguntava se o noivo ia entrar de barba ou não, se a minha música tinha sido fácil de escolher, e pouco a pouco eu ia me acalmando, do jeito que só os pais sabem fazer.

Quando a minha mãe chega com o antialérgico no carro eu já sou uma noiva mais calma, com lábios perfeitos e o coração tranquilo. Voltamos nós três para a sala ao lado da igreja reservada para os preparativos finais. Minha mãe ajeita o meu cabelo, que a esta altura do campeonato já estava todo desgrenhado. Meu pai coloca o véu sobre meu rosto e me diz que eu sou a garota mais linda que ele já viu. Os dois seguram na minha mão, e o sonho acaba quando entro na igreja.

Acordei impactada, pra dizer o mínimo. Olho para o lado da cama em que acordava o meu namorado, e lhe conto a trajetória do meu sonho com ares tranquilos. Ele se sensibiliza e diz: “nossa, mas isso não me parece um sonho, parece muito mais um pesadelo”.

E foi aí que eu me dei conta que a diferença entre eu ter tido um sonho, e não um pesadelo, era a presença e o conforto dos meus pais. Aquele que eles sempre me deram, e sempre me dão.

Porque eu já cheguei naquela fase da minha vida, de admitir que eu sou destemida por conta de quem me acompanha, muito mais do que por conta do que eu sou. E que dificilmente algo me derruba, se eu tiver a minha família do meu lado.

Eu já não sou mais aquela que tentar resolver tudo sozinha. Eu ligo e falo para eles que eu não tenho a solução, ou que às vezes eu estou confusa, ou que eu preciso de ajuda. Eu escuto histórias de pais ausentes e eu me dou conta de como eu sou sortuda de ter tido o meu sempre por perto. Sempre me protegendo e zelando por mim, e como isso tem impacto na minha confiança pra tudo.  Eu penso na sorte que tenho de ter sido parida pela minha melhor amiga. A minha mãe é a pessoa que eu escolhi ter por perto, muito provavelmente uma escolha de outras vidas, e como isso me nutre de amor a ponto de eu não buscar amores que não me são dignos.

Então não é a toa que eu choro emocionada escrevendo essa sessão. Ou tão pouco que meu sonho encerrava na porta da igreja, sem desfecho. Porque todo o desfecho que eu preciso estava e sempre estará do meu lado. Com meus pais segurando as minhas mãos, e meus irmãos zelando por mim de onde estiverem. O casamento do meu sonho podia sim ser indício de uma nova família, uma nova etapa. Mas que felicidade me dá acordar, literal e figurativamente, para a realidade de poder olhar pra trás, ou mesmo para o lado, sabendo quem segue comigo acima de qualquer coisa. De noiva, ou pagando o pato.

Fim da sessão

Antônia no Divã

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Antônia no Divã

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