Desculpem-me os casados. Vocês tem o inverno todinho pra vocês, com viagens delícia para a serra, cobertores de orelha e alguém para esquentar seus pés. Longas horas embaixo das cobertas deflorando o Netflix ou seus próprios corpos – pouco importa o frio que faz lá fora quando o calor está garantido. Enquanto nós, solteiros, padecemos na estação mais fria, com ruas vazias, bolsas de água quente, rezando por um raio de sol que irá nos convidar para passear. Desculpem mesmo, casais, o verão pode até ser bom pra vocês, mas tenho certeza ele é muito mais gentil com os solteiros (comparado aos ventos gelados e nefastos de julho).
Calma, não estou reivindicando que a estação pertença somente aos avulsos – mas a tendência é que o calor destes três meses favoreça a nossa autoestima e interação. Verão tem um quê de libertino, confessa. Uma excitação que emana da pele bronzeada. Uma vontade enlouquecida de beijar na boca. Melll Dells como é bom beijar na boca o ano todo, mas no verão… é sede matada na saliva. É nuca suada. Tudo contribui. A energia positiva das férias, nosso lado aventureiro no último volume e o desejo por novas experiências. Não me considero uma solteira convicta, mas bem mais convencida quando os termômetros aumentam.
Tudo isso porque não há coração que não se aqueça com o sol de verão brilhando lá fora – mesmo que você seja um grande fã do ar condicionado. Tem como fica alheio aos bares e praias lotadas de gente querendo ver gente? Nesse período do ano facilmente toleramos perrengues como engarrafamento, falta de água, asfalto digno de fritar ovo, aedes aegypti e sungas brancas, tudo em prol de se jogar na estação mais sexy. Você faria o mesmo durante as chuvas frias de inverno? Não, no verão cada esforço é uma delicia e costuma ser recompensado.
Adoro que no verão todo fim de tarde tem cara de happy hour, e cada momento longe do trabalho tem peso de diversão obrigatória. O sol nasce mais cedo, empurrando a gente pra fora da cama, sem deixar margem pra preguiça, e se estica até a presença da lua. Por vezes nesta estação, é possível ver os dois juntos, sol e lua flertando no céu (até eles!), misturando dia e noite, numa vontade de viver o melhor de cada minuto – sensação essa, ainda mais urgente para os solteiros. A lua que chega de mansinho, nesta época do ano é contemplada na maioria das vezes perto da água, no mar, rio, lagoa, com seu manto prateado, brilhando toda exibida, tornando o crepúsculo muito mais sensual. Ela que vem anunciar que se o dia foi quente, a noite de verão pode ser ainda mais promissora.
Amo que no verão, a indumentária é relaxada, e a etiqueta sabe ser menos restrita. A pista de dança aceita o shortinho, o luau não julga o cabelo sujo da praia e as havaianas estão mais em alta do que o salto alto. Marquinha de biquíni tem mais estima que high couture. E para os gatos não é diferente: tênis, bermudas e regatas tem o apelo mais lascivo que um terno engomadinho (repudio qualquer dress code obrigatório no calor). A tendência no verão parece ser o conforto, e menos é mais (graças à Nossa Senhora das Coxas Grossas). Acredito que a gente se apresenta da forma mais sincera, sem pretensão de agradar ninguém – além do próprio ímpeto de curtir a temporada.
Adoro a energia atlética envolvendo o verão. Sedentários do ano todo assumem desafios no futebol de areia, no slackline do parque ou na simples caminhada do final de tarde. E sem falar nos surfistas. Jesus coroado abençoe os surfistas! Com suas pranchas frenéticas pra cima e pra baixo, a procura da onda perfeita – apenas para dar de cara com a velha frustração de todo verão, quando quase sempre o mar é flat, e se não é, tá crowdeado. Mas isso também não é problema, no verão dos solteiros. Tem sempre uma pá de gatas na areia, prontas para oferecer um ombro “amigo” àqueles corpos salgados (me escolhe!). Verão é uma delicia porque vem temperado com suor e por Iemanjá. Endorfina, feromônio – haja coração pra tanta química.
Verão tem churrasco onde os amigos dele se juntam com as suas amigas, e pode até faltar carvão, mas nunca o sexy appeal. Na piscina sempre cabe mais um corpo nu. Tem trilha (e amasso) no meio do mato. Tem música pra fazer o almoço, janta, chalaça e amor. Banheiros são divididos por grandes turmas e camas são por vezes compartilhadas ou trocadas, tudo promovendo o intercâmbio – de momentos, de risadas, de fluídos (com exceção daqueles controlados pela camisinha! Toquinha nele!). Verão é uma bagunça harmoniosa. A gente se permite escalar as pedras da virtude, descobrir novos caminhos e reinventar as relações. A estação vira uma aventura.
E de novo, aqui não estou alegando que os casados não gozam de prazeres similares, ou que o período é apenas digno dos desempregados do coração. Não é isso. É que o verão sabe tratar bem quem ainda não achou sua cara metade. Ele oferece uma estação inteira de possibilidades a 40ºC. A gente pode até se queimar – mas não abre mão do calor que ele promove dentro de um coração solteiro.
“Vem chegando o verão, o calor no coração. Essa magia colorida, são coisas da vida” – Marina já disse.
Fim da sessão
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