Aí você optou pelo “antes só vinho, do que meio acompanhada”. Seja porque ele simplesmente não estava mesmo afim de você, seja porque você acreditou que merecia mais do que o que estava ganhando. Fato é que ninguém estava errado, vocês só estavam com cronômetros desalinhados ou queriam coisas diferentes. Ok. Agora é cada um seguir o seu caminho, e chamar a próxima ficha, certo? Foi o que você pensou? Pois pense de novo.
Acredito fielmente na dura realidade de que, uma vez que você deixa alguém entrar na sua história, retirá-la não é tarefa tão simples. Isso porque sempre que alguém vai, leva consigo um pouquinho da gente, e acaba deixando um tanto de si. É muito escambo.
Claro que quando eu falo em “alguém”, não estou falando do carinha que você pegou na ultima balada, quando estava mucho loca. Estou falando da pessoa pra quem você se permitiu mostrar um pouquinho mais. O cara que você deixou te ver doente, com cólica ou sem rímel. Que presenciou uma crise de fúria sem sentido e sem entender com quem mesmo você estava brigando. Aquele alguém que você quis apresentar para as amigas, que planejou idas a praia. Alguém que você curtiu, que dividiu bons momentos, boas conversas e cosquinhas, além das boas transas. Não era o cara da sua vida, mas não foi qualquer cara. Ele.
O que acontece é que depois do fim, você irá apagar o telefone dele (e adicionar de novo, e apagar mais uma vez), mas ainda há de lembrar da voz do outro lado da linha. Vai agradecer porque a tampa do seu vaso finalmente vai ficar abaixada, e na contrapartida terá dificuldade entrar no banheiro sem lembrar de tudo que o chuveiro já testemunhou. Por algum tempo ainda irá escrever textos homéricos no whatsapp nas madrugadas de insônia, apenas para mastigá-los sem nunca apertar “enviar”. Talvez vá estranhar a própria cama, pois já não sabe de qual lado dela você deveria ficar. Ou ainda, irá fechar os olhos, e do nada – no meio de uma reunião qualquer – lembrar-se de como ele pegava na sua mão do meio do sexo, e do frisson que este movimento produzia. Acontece. Não é porque você fez uma escolha prática e racional de seguir adiante, que vai livrar-se da irracionalidade da saudade. Essa cretina.
Saudade, esta baita inconveniente, palavrinha que só existe na safada da língua portuguesa, pra te lembrar de que o fato de ter um fim, não quer dizer que irás aniquilar todas as sensações imediatamente. Onde fica o botão ‘’OFF’’ da saudade? Então veja, esse período subsequente a uma separação, por menor que ela seja, não chega a ser um luto, ou mesmo um coração partido. É uma melancolia suave “a la Adele” do tipo “We could’ve it all”, mas #sóquenão. É a contemplação do vazio deixado pelas borboletas, essas malditas, que foram voar em estômagos de outrem que não o meu. Às vezes fico me convencendo de maneira infantil que o que eu tenho é fome. Mas não, esse vazio, eu sei bem, é o que eu chamo de entressafra.
Entressafra, substantivo feminino (que ironia), que se refere ao período intermédio entre uma safra e outra, subsequente, de um fruto/colheita. As entressafras podem ser de três tipos:
♣ consequência das condições climáticas – alguns frutos são frutos de estação, não amadurecem no verão, apenas no inverno – assim como algumas relações. Quão frutífero é o amor no carnaval, hã? Junho é outra história, não é? Pois veja, uma questão de natureza do ambiente e de condições, ora muito, ora pouco favoráveis pro amadurecimento.
♦ uma estratégia de mercado – ou seja, recessos planejados para reduzir a oferta, e aumentar a procura por determinado período, valorizando, desta forma, algum produto, e alternativamente, o seu tempo/coração;
ou ainda;
♥ uma necessidade natural – a mais orgânica das entressafras é aquela que se dá em respeito à natureza da plantação. Você plantou, regou, cuidou, colheu. Não importa o que fez com a colheita, mas enfim, usou o terreno. Tirou dele todos os nutrientes que precisou para apostar na boa agricultura. E agora, respeitosamente, precisa dar um tempo para a natureza se recompor. Não adianta sair distribuindo semente em cima de terreno cansado, com vestígios da plantação passada. Já tentou comer laranja de entressafra? Já tomou vinho de entressafra?
A entressafra, no seu equivalente masculino, também pode ser reconhecida como “entre séries”, ou seja, período flat entre uma sessão e outra de boas ondas. É como o terreno esperando. Você ainda está no mar, você ainda acredita do swell, mas não vai sair dropando qualquer marola. Vai ficar ali, curtindo o balanço do mar pra pegar fôlego para a entrada de uma próxima série. E em tempos de crise, meus amigos, na economia ou no amor, não dá pra ficar desperdiçando semente ou braçada por causa da saudade. Se jogando em qualquer abraço pra ocupar as mãos. Não. Há de se respeitar a entressafra e a entre séries.
Então veja, mais uma vez estamos aqui discutindo o tempo e a naturalidade do amadurecimento, que na nossa afobação constante, são subjugados. Acredito que o que não dá é pra se nutrir de despeito, semear orgulho e regar com álcool o terreninho do coração, pois boa coisa não vai florescer. Eu aprendi, nesta longa estrada dos afetos e desafetos, que é necessário respeitar o período de entressafras. Ou então sua escolha de “antes só vinho, do que meio acompanhada”, que fora tão prática e racional, terá gosto de vinagre. Ou pior, você corre o risco de acabar com uma laranja podre nas mãos.
Entressafra, meus queridos. Plantem lá na frente que as borboletas voltam, elas sempre voltam. Essas malditas.
Fim da sessão.
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