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Intolerante a borboletas

Sabe aquele momento que você se dá conta que começou a gostar de alguém novo e sua barriga se enche de borboletas? Aquela sensação de não pertencer completamente a você mesmo? De tremelicar quando o telefone toca? Ou ter uma mini-taquicardia com o interfone? Sabe aquela fase de se pegar constantemente relembrando momentos fofos? Pois então. Eu odeio essa fase.  Ok, talvez odiar seja um verbo um tanto forte. Digamos que eu até aguento essa sensação por 24h –  não mais que isso. A minha tolerância para borboletas é péssima. No fundo acho que o que devo ter alergia.  Sou intolerante a lactose, glúten e também a borboletas.

Não precisa nem ser amor. Basta ser interesse, carinho ou mesmo desejo. Se a pessoa me tem, nem que seja um pouquinho, eu sofro um ataque alérgico beirando o epilético. Talvez o motivo da intolerância a borboletas seja o mesmo da lactose e do glúten: excesso de consumo ao longo dos anos. Possivelmente eu já amei mais do que devia. Hipoteticamente pode ser que eu tenha medo de me entregar de novo. Fato é que na fase das borboletas eu desenvolvo uma condição de estresse e sabotagem tão grande, que o amor tem dificuldade de florescer. Meu coração vira ambiente inóspito.

É como se eu perdesse completamente o controle, a decência e a noção, os três juntos.  Eu quero dizer “fica mais um pouco”, mas as palavras tropeçam na minha língua presa e saem como “tu não está atrasado?”. Se o objeto do meu desejo está no mesmo ambiente que eu, desempenho uma coreografia que intitulo “agindo normalmente”, mas que parece uma garça constipada tentando fazer yoga. Eu fico oscilando entre o “obviamente estou na tua”, com desaparecimentos eventuais que podem durar 12h ou 3 dias. “Mas deste jeito como o cara vai te entender, Antônia?” – minha mãe pergunta, enquanto me encaminha um e-mail com um prospecto de curso chamado “COACHING NO AMOR”. (Não mãe, eu não vou fazer o curso). Mas ela tá certa, eu fico muito atrapalhada. Culpa das borboletas, essas malditas!

Quando ele está comigo e por algum motivo começa a mexer no celular, eu fico futricando no meu também só de raiva, mesmo sem ter UMA pessoa que quisesse falar naquele momento. Se o whatsapp dele está online, e ele não está falando comigo, tenho o instintivo desejo de aparecer na casa dele, arrancar-lhe o aparelho das mãos e estraçalha-lo no chão. Assim sabe, atitudes super plausíveis e justificáveis (revirando os olhos).

Se recebo retornos como “talvez” ou “a gente vai se falando…”, tenho vontade de ligar para aquele contato que não vale nada, mas que vai querer me ver/comer “com certeza” ou “pra ontem”  – só para preencher o despeito criado pela incerteza de quem eu queria com certeza. Tenho súbitos de luxúria que me inflamam o sangue, e entro em módulo “diabo no corpo”. Quero sentir o peso de alguém em mim, apenas para não admitir que sinto falta de um calor específico. Queria muito me jogar nos braços de um canalha nestas horas. Mas o fato é que perco tesão por todo mundo quando me interesso por alguém.

Aí eu embebedo as borboletas para ver se elas se afogam logo e me deixam em paz. Elas, que pelo tamanho do desconforto só podem ser pterossauros se debatendo nas paredes do meu estomago.  Nestas horas eu temo pela minha sanidade e paz de espírito. Crio teorias absurdas na minha cabeça. Psicopateio sozinha. Argumento DRs infinitas comigo mesma. Atormento as amigas.  Fico exausta. E mais uma vez concluo que a ideia de paixão, interesse, “estar afim”, é coisa pra maluco. Que o  seguro mesmo é manter os pés no chão e a mente focada em criar codornas, e não expectativas.

Mas aí ele liga e convida pra ver um filme. E eu respondo com meu “sim” mais polido e casual, para que ele não perceba a tempestade que este estágio me causa. Eu fecho os olhos para beijo-lo torcendo que assim ele não possa enxergar minha alma atormentada. Eu tranco o suspiro quando tenho um orgasmo com medo que eu exploda em declarações de bem querer. Eu disfarço o meu acanhamento, quando ele investe na mais sexy de todas as posições, quando pega na minha mão. Evito encarar os olhos dele quando conversamos – enquanto ele massageia minha panturrilha – por morrer de medo que meu coração descongele de vez.  Afinal, gelo com calor vira água, água faz florescer e o florescer traz mais borboletas. Essas malditas.

Talvez a minha grande confusão é que hoje eu até já aprendi que eu nunca vou morrer de amor. Mas de borboletas, ahhh… essas são perigosas.

Alguém tem um sal de frutas?


Fim da sessão.

 

Antônia no Divã

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Antônia no Divã

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