Revisava a minha lista de pautas para a sessão de terça-feira, quando recebi um e-mail promocional um tanto inusitado. A chamada dizia “FACAS Fulano. Neste dia dos namorados não basta amar, tem que demonstrar (!?!). Facas Fulano”. Soltei uma risada instantânea pensando na ironia de vender o que pode ser considerada uma arma branca no dia mais romântico do ano, quando outro pensamento mais inquietante me ocorreu – eu havia me esquecido completamente que adentrávamos a semana do dia dos namorados. Nada na agenda. Nem um coraçãozinho no calendário, que fosse para lembrar-me de incluir a celebração nos assuntos das minhas sessões – não fosse o e-mail das Facas Fulano.
Logo me botei a pesquisar os assuntos mais diversos girando em torno da data, que incluíam, é claro, a campanha do O Boticário (que eu não vou comentar aqui, uma vez que meu coração já saiu do armário há muito tempo) e a eterna guerra entre solteiros Vs comprometidos. Sério, não sei bem quando essa polêmica começou, em que momento os grupos tornaram-se facções opostas disputando superioridade, mas a pauta é no mínimo intrigante. “20 razões para ser solteiro(a)”, “Ame uma pessoa assim”, “Case com alguém assado”, “Mulheres inteligentes se bastam” entre outras teorias de teor nada democrático. Quando mesmo que virou mandatório o mundo ser tão polarizado? Solteiros = despeitados ou descolados. Comprometidos = submissos ou respeitáveis. Será que ainda não entendemos que a faca do amor tem dois gumes pra todo mundo?
Eu já caí na besteira de namorar por convenção. O Marcos era um grande amigo, com quem eu acabei ficando. Durante meses ele e eu nos divertimos pra caralho. O tempo passou, e por conta unicamente do relógio, o Marcos entendeu que o relacionamento TINHA que ir pra algum lugar. E foi. Foi para o brejo. Uma vez que viramos namorados, ele deixou de ser o Marcos, eu deixei de Antônia, e o relacionamento – antes sadio e positivo – virou um redemoinho expectativas e frustrações. Tínhamos mais obrigações que direitos, discutíamos mais do que transávamos. No dia dos namorados que passei namorando o Marcos, eu ganhei um quadro gigante com fotos de uma viagem que fizemos a Paraty. Eu dei a ele uma cafeteira Nespresso (bem melhor que uma faca, não?). Era óbvia a nossa falta de sintonia como casal. O Marcos queria um namoro para colocar na parede. Eu queria um que funcionasse. E de quebra, que colocasse cafeína na minha vida. O resultado desta equação foi um término amargo e o fim de uma amizade. Nós perdemos duas vezes.
De lá pra cá prometi que não cairia de cabeça em mais nenhuma relação por convenção. Não iria namorar porque minha mãe passou usar o termo “desencalhar”. Nem por conta dos fios de cabelos brancos que já começaram a aparecer. Ou por qualquer outra razão que comece com “a sociedade impõe que…”. A sociedade tem outros problemas maiores que meu status social, eu garanto. Ao mesmo tempo, eu também não tenho pretensão nenhuma de ser uma solteira inveterada. Daquelas que bate no peito e grita aos sete ventos que se garante e se basta o tempo todo. Eu me basto na maioria das vezes, em algumas não. Outras eu não quero me bastar – às vezes eu quero mesmo é colo. E isso não faz de mim uma “mulherzinha” ou uma desesperada. Faz de mim alguém que gosta de carinho – pura e simplesmente.
Sabe o que eu quero? Mais apelidos carinhosos e menos rótulos. Relacionamentos mais preocupados com os momentos, do que com o futuro. Eu não quero ser a metade da laranja de ninguém – quero continuar sendo a fruta inteira que sou, e não ter a responsabilidade de preencher parte qualquer de outrem. Quero gozar da companhia de gente que me dá preferência por prazer, e não por obrigação – aqui incluem amigos e amores. Quero histórias mais despretensiosas, pois sei que o amor gosta mesmo é dos distraídos. E enquanto ele não me encontrar, quero aproveitar cada minuto da minha solteirice sem culpa nenhuma.
Talvez eu tenha esquecido o dia dos namorados porque eu tenha cansado das celebrações de hora marcada. Quero surpresas numa segunda-feira. Eu quero mesmo são as sutilezas. Beijos na testa depois do sexo. Conversas ensopadas de maresia num final de tarde na praia. Quero alguém que respeite a minha bagunça e também meu jeito atrapalhado de gostar. Essa venda de ideias como “ame assim”, “seja assado”, “transforme-se na pessoa que você quer conhecer”, “74 motivos pelos quais o amor acontece/não acontece”, “namore alguém que viaja/que não viaja” é muito chata e pouco efetiva/afetiva. Só serve mesmo para alimentar neuras e uma ansiedade desnecessária, você namorando ou não.
O que hoje eu concluo é que não dá pra traçar rotas para o amor ou tentar justificar falta dele. Rotular e julgar sentimentos, estágios ou status sociais. A vida é muito mais randômica e inesperada que isso. Então meus votos pra quem está oficialmente no barco do amor, é de aproveitar a viagem mais do que preocupar-se com o destino. E para aqueles que ainda não encontraram o grande amor, é de aproveitar a faceirice de ter o coração desempregado, sabendo que todo dia pode ser o dia de conhecer alguém especial. Acima de tudo, que o amor nasce de momentos, suspiros, propensão. Não é matemática e nem física. E que tentar criar padrões pra ele é tão eficaz quanto vender facas no dia dos namorados (viu, Facas Fulano?).
Fim da sessão.
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