É como se eu tivesse recebendo uma educação. É, um phD em tristeza. Acessando níveis de profunda introspecção na arte de arder o coração em pesar. Encontro-me num processo muito similar a aprender uma nova língua ou uma habilidade nunca antes desenvolvida. Eu estou virando uma perita na produção de lágrimas. Gordas, pesadas e inconvenientes. Lágrimas que jorram sem cerimônia ou hora marcada. Sinto os olhos como barragens arrebentadas, e o peito Minas Gerais (com todo o meu respeito). Sou uma terra arrasada pela água.
Na verdade uma mimada pela felicidade é o que sou, hoje sei. E minha ignorância na arte da tristeza ajudou a desenvolver uma fobia em relação à complexidade do sentimento de hoje. Por que ninguém nunca falou da tristeza? Como que não somos ensinados a sentir dor com antecedência? Sou conhecedora íntima da tal da alegria, euforia, felicidade, mas nunca me prestei a olhar 2 minutos pra tristeza? E agora cá estou, amadora da melancolia tentando apenas sobreviver. Uma principiante assustada é o que sou. Eu deito por horas na minha cama em meio a crises de choro implorando pro meu coração não explodir de padecimento. Na minha estranheza quanto à tristeza, eu temo que – de forma literal – meu coração se esvaia em lamentos – veja que tola essa novata dos dias tristonhos?
Esbravejo “Que injustiça da vida!”, logo eu que sempre tive pavor de sentir pena de mim mesma, me pego confortando a própria cabeça num ato desesperado de “ora, ora, vai passar…” (em voz alta). Quero sentir pena de Paris, Mariana, dos refugiados e abraçar todas as dores do mundo, numa tentativa de colocar minha dor – tão egoísta e egocêntrica – em perspectiva e tudo se esvai em prol da minha amargura, minha, e tão minha. Eu nunca fui amiga da tristeza, nós sequer tínhamos sido apresentadas, e agora ela se mudou pra dentro da minha casa? Usa minhas roupas e exige todo o meu tempo? Sua espaçosa!
Mas ela é educadora, isso é. Como poderia uma vida de sorrisos, sem a profunda experiência de velar a morte da minha inocência? Quer dizer, eu já tive momentos de tristeza – mas a condição atual exige um nível superior de entendimento. É como se eu tivesse passado 30 anos de cursos esporádicos de melancolia, e fosse lançada a Escola Superior do Abatimento para um MBA em Mágoa Avançada com Ênfase em Padecimento Crônico. E eu não estou sendo dramática. Foi tipo, “vai sua linda, vai aprender que a vida não é sempre doce chupando todo o limoeiro.” E aqui não me refiro à depressão – assim espero – é tristeza mesmo.
E quando você inicia essa educação, você está por conta. As pessoas felizes ou as que gozam da ausência da tristeza não entendem desta matéria, e por isso tem medo, repulsa ou desinteresse no assunto. Medo de que seja contagioso, e por isso se mantém bem longe da minha nova faculdade – “pra me dar espaço”. Repulsa porque não conhecendo o fundo da sala de aula, que neste caso é um poço escuro, não entendem como você ainda não achou seu caminho de volta para a luz. E desinteresse, porque convenhamos, gente infeliz é chata pracaralho. Eu me tornei o tipo de pessoa que evitei a minha vida toda: uma pessoa triste. E acredite, pouca e corajosa gente vai te amar e ficar por perto, mesmo nos dias tristes.
E como eu me esforço pra ser boa em tudo que faço, me vi doente na arte de ficar triste. O choro constante virou sinusite, que virou dor de garganta, que virou bronquite, que virou hospital. Na nebulização a jovem médica me pergunta “está doendo alguma coisa?” espantada com minhas lágrimas (gordas!) em meio ao vapor – “não, doutora, não tem remédio pro que eu tenho não. Estou recebendo uma educação.” “Quer um tranquilizante?” – ela pergunta preocupada – “Não obrigada, isso seria como colar na prova, doutora”.
E aqui está é outra coisa que já aprendi sobre a dor: poucos alunos estudam essa matéria “de carinha”. Uma infinidade opções tarjadas de preto ou vermelho oferecem um semestre mais tranquilo na faculdade do luto. E se você se distrair por um minuto de boca aberta, alguém vai te tascar um comprimido boca adentro “pra ajudar”. Acontece que toda vez que alguém me oferece essa opção, eu me pergunto: mas se não aprender essa matéria agora com meus próprios meios, não corro o risco de rodar? E rodando, não terei que repetir a matéria ali na frente? Não, muito obrigada. Se a dor ensina gemer, eu hei de decorar seu hino – se preciso for.
Eu nunca me imaginei dissertando sobre o pesar, assim, tão pesado, mas cá estou. Sabendo que talvez seja a única forma de ser aprovada nesta pós-graduação que é a vida. Torcendo para que cada prova me torne mais capaz de entender o mundo, que cada lágrima lave a ferida aberta e que este processo me ensine mais sobre eu mesma. “Mas você é forte, você é uma guerreira!” canta a torcida da faculdade da alegria, sem qualquer discernimento do que é ser dona desta minha matrícula. Eu não sou forte, tão pouco uma guerreira. Carne, osso e amor me constituem, e tudo isso é muito frágil. Então se eu perseverar (e eu vou perseverar), é simplesmente porque eu não tenho e não acredito em outra opção.
Hoje eu preciso da tristeza, e talvez só através dela, vou realmente entender aquilo que antes chamava de felicidade. Então me dá licença, se você se acostumou com a minha alegria. Querendo ou não, minha tristeza exige passagem, e passando, vai passar.
Fim da sessão.
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