Dividir a cama com alguém, sempre foi tabu pra mim. Ok deixe-me reformular esta frase. Dividir a cama para dormir com alguém, sempre foi tabu pra mim. Eu não tenho tantos problemas em dividir a cama para ficar acordada (ui, adoro!). Mas perceba que sexo – por vezes – pode ser pura e simplesmente um ato de prazer. Dormir junto, no entanto, é um ato de intimidade. E é aí que eu me atrapalho.
Eu simplesmente odeio dividir a cama. Pergunte as minhas amigas sobre nossos inúmeros verões na praia. Eu sou a primeira a me atirar num colchão no chão, contanto que não tenha que dividi-lo com ninguém. Note, eu me mexo pra caralho, fico horas futricando no celular antes de dormir, sou fumante e sensível ao cheiro (que sei que não agrada ninguém) e ronco. Jesus amado, como ronco. Botaram uma britadeira no lugar do meu sistema respiratório, só pode. Além disso, acordar perto de mim é uma atividade de alto risco. Sou daquelas que acha que deveria ser ilegal conversar com as pessoas antes do primeiro café.
Sendo assim, e considerando os meus anos de solteira, confesso que já virei muita noite em claro, pela simples inabilidade de relaxar e adormecer do lado de alguém.
Acontece que há algumas semanas, socorro, tem alguém dormindo na minha cama. Ok, pretensão a minha dizer isso. Mais sinceramente, tem alguém dormindo na cama dele. Ou não dormindo, no caso. Eu. Nas primeiras noites, o desconforto bem conhecido. A busca eterna por uma posição de conforto, horas encarando o teto, o malabarismo a lá Cirque Du Solei para tirar um cotovelo enorme de cima da minha teta e a tentativa ridícula de parecer linda ao acordar. Que gastura!
Mas lá fui eu, tentar entender a mágica da tal da conchinha, tendo quase certeza que sou mesmo é um ouriço de pijama. Eu não sei onde enfiar meus braços. Fico desconfortável pra ir ao banheiro /tomar água/ir no banheiro de novo. Tenho medo que meus cabelos sufoquem meu companheiro de travesseiro. E sofro com nossos fusos incompatíveis.
Dormir acompanhado é muito cansativo pra mim. Até a bela noite em que eu – exausta – relaxei e dormi por algumas horas, apenas para despertar no meio de um peido, furtivo e sonoro, que me acordou num susto. Eu quis morrer. Espiei com um olho aberto e outro fechado por trás do meu travesseiro se a outra parte da cama reconheceria a intimidade inadequada do meu intestino grosso. Nada – ou dormia solenemente, ou me fez a cortesia de ignorar a minha vergonhosa sonoridade. Como se o ambiente não fosse turbulento sem a minha flatulência… Enfiei a cara no travesseiro e fingi dormir até o outro dia. O peido só podia ser o meu castigo por adormecer.
Acontece, no entanto, que a privação de sono também pode enlouquecer (e ninguém aqui precisa ficar mais louca né). Depois de uma semana inteira tentando controlar o incontrolável, eu cedi à trama intricada de dois pares de pernas disputando harmoniosamente o mesmo edredom. Eu continuei com a minha rotina maluca, e indisciplinada de nunca ter hora pra dormir, mas aprendi a me deitar mais cedo pelo genuíno prazer de me aquecer ao toque da pele de alguém que me abraça com carinho. Na contrapartida, ele – que é de rotina matinal pré-cantar-do-galo – passou a vestir-se no escuro para não me acordar e a me enrolar como um temaki no edredom sempre que não podia me entregar mais “cinco minutinhos” de carinho por conta do trabalho.
Eu larguei o cigarro (ainda que em análise) e passei a celebrar beijos matutinos antes de escovar os dentes – realidade que eu achava que existia somente nos filmes. Abri mão de tentar ficar bonita ao acordar, porque ele tem mania de tirar fotos minhas dormindo e manda-las no meio da manhã, com a legenda “linda” logo abaixo – e por Jeová, como não ficar feliz quando alguém enxerga beleza no meio de uma macega de cabelos embaraçados e remelas? Gosto quando preciso de um espaço e ele negocia “um pezinho pelo menos” que eu tenho que deixar a disposição para que ele se encoste. Ou de como entende que por vezes eu preciso testar o outro lado da cama, porque ainda não entendo muito bem essa coisa de “lado da cama”.
Adoro buscar a luz dos olhos dele antes de sair catando a luz da tela do celular. Ou de como eu me sinto uma idiota sorrindo ao vê-lo dormir, ainda que com o maldito cotovelo em cima da minha teta – mas perto o suficiente para que eu possa sentir o cheiro da sua respiração. Eu que me condenava uma rebelde da conchinha, entendi que nos lençóis certos vale a pena pegar num sono. E cultivar sonhos de horas mais longas na cama – fazendo não muito mais do que dormir agarrado, feito um coala.
Por falar em coala, aqui na Austrália já é hora de dormir. Que felicidade.
Fim da sessão.
ps: tenho certeza que ele ouviu o meu peido
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