Efemérides

É preciso descansar

Hoje durante o dia eu estava tão emocionalmente esgotada que eu quase mandei um fornecedor a merda, por um erro que eu tinha cometido. Já aconteceu com você? De estar tão brava, e cegamente possuída pelos teus sentimentos, que você sequer conseguia enxergar que o engano era todo seu? Salva pelo gongo, a minha explosão só foi contida porque eu tive que atender ao telefone. Quando voltei, já tinha respirado, e ao retomar o assunto evitei aquilo que podia ser um confronto injustificado e vexaminoso.

O dia foi o estopim de uma meia-semana caótica, e sem motivo aparente. Muitas vezes, a gente transborda, e nem sempre é de alegria. Embora a maioria de nós funcione sob a premissa de que somos feitos de aço, a realidade nos lembra de que a nossa humanidade é de carne, osso e temperamento. Curtos, muitas vezes.

A esfera política tem consumido muita energia. E eu sou daquelas pessoas que discute na internet, vício pior que fumar, eu diria. Então entre um #elenão e outras muitas pautas tagareladas sem nenhum resultado promissor – porque ninguém nunca muda de opinião com post alheio – eu joguei fora um bocado de tempo que devia ter ido ler um livro. Eu também fiz faxina na casa, quando devia ter feito uma no corpo e na mente, e ido dar uma volta pra reciclar o lixo que juntava no peito. E essas coisas todas viram gotas em um balde que uma hora, desesperadamente, queremos chutar.

Fato é que nada de extrema significância aconteceu comigo para eu estar exausta, mas eu estava. Estou. O meu trabalho que normalmente é divertido e me deixa muito satisfeita, virou um peso nestes últimos dias.  Eu também me vi perdendo a paciência por muito pouco com meu parceiro. Quando finalmente declarei o meu estado de braveza, bradando do alto dos meus pulmões que tava puta, puta mesmo, e que nem sabia bem porque, ele olhou pra mim, irritantemente sereno, e sugeriu “então desiste”. “Desiste do que, mel dels”, pensei comigo. Da empresa que eu criei e que me sustenta? Ou dos meus tantos outros ideais tão idealizados? Como assim desiste, e me irritei de novo, por cima da irritação.

Foi quando então, a sugestão de desistir me serviu de remédio. Talvez mais insatisfatória do que a condição esgotamento que eu vivia, seria a ideia de jogar tudo para o alto.  A ficha de vez caiu. Entendi que eu precisava era pura e simplesmente descansar. Parece óbvio? Mas não é. A gente esquece que precisa resetar o modus operandi, e descansar, antes de considerar qualquer desistência por conta de um destempero.

Olhando pra trás hoje, dei-me conta de quantas coisas eu teria conduzido melhor se tivesse tido mais clareza que eu não precisava de encerramentos, mas sim, de recomeços. E de quantos projetos eu teria dado continuidade, se tivesse maturado meus sentimentos, antes de investir em ideias e planos. Às vezes a gente faz isso. Desiste, ao invés pausar. Joga fora, ao invés de botar pra dormir, e retomar com a cuca refrescada, e energia toda nova.

Quando me dei conta disso, decidi deitar-me no meu divã e pensar sobre desistir. E a foi então que a tristeza tomou conta. Um lamento rodeando a decisão de abortar alguns dos meus planos, tão meus e tão queridos (não hoje, hoje tá tudo errado), ideias que um dia logo ali atrás, eu desejei, sonhei e arquitetei. Porque eu jogaria fora algo que não está quebrado, e tão somente me parece pesado porque, hoje, estou com os braços cansados?

E foi considerando a escolha de desistir, que eu decidi continuar. Mas só depois. Sabe, às vezes a gente não precisa entregar os pontos. Só precisa descansar.  Ou vai sofrer com chiliques que deveriam ter sido evitados. Vai brigar na internet. Ou pior, vai ouvir de alguém que se está tão ruim, você pode abrir mão dos planos que um dia fez.

Então pare um pouco. Não deixe que um dia de exaustão te faça esquecer daquelas tuas escolhas mais queridas. Pegue o travesseiro e por Jeová, vai dormir. É preciso descansar. Amanhã você volta a dominar o mundo. O seu, pelo menos.

Fim da sessão.

Antônia no Divã

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