Estava bem relutante em postar essa semana. O motivo reinava sobre a minha decisão de não jogar na rede qualquer pensamento. Em tese, e mesmo que muita gente discorde, eu escolho os pensamentos que coloco aqui, no humilde desejo de que eles sirvam para tocar alguém de alguma forma positiva. Nunca negativa. Aprendi bem cedo que se aquilo que a gente tem a dizer não for verdade, útil ou gentil – pelo menos UM dos três – não é valido ser proferido. É melhor oferecer nada. Neste caso o silencio vale ouro. E foi justamente no meio da minha brabeza, que sobre o nada eu decidi falar.
Ontem, em mais um episódio de “Eu odeio segunda-feira”, me vi com vontade de mandar o meu cliente a merda. Isso porque crise econômica nenhuma justifica a ausência de uma crise de consciência das pessoas. Dificuldade alguma justifica a má fé do ser humano. Quando tocaram as badaladas do ponto, peguei o rumo de casa chorando de raiva ao volante. No meio da minha fúria planejei ligar para o cliente com desaforos elaborados, avisar meu diretor/pai que estava indo embora, pegar meu passaporte e vazar daquela situação. Eu queria decidir tudo naquele agora. Todavia a decisão não resolveria qualquer problema. Além disso, aquela decisão não seria boa pra ninguém – nem pra mim. E na dúvida do que fazer com meu dilema, eu decidi não fazer nada. Sim. Nada.
Existe um conceito muito querido entre os italianos que é subjugado sob a forma de “preguiça”. O conceito “dolce far niente” traduz-se da melhor forma como ‘a doçura de não fazer nada’; ou ainda ‘a suave indolência ou relaxamento indulgente’. Em suma o prazer de estar ocioso. Alguns dirão que é culpa da cultura italiana de bebericar vinho a qualquer hora do dia, outros de que esta seja uma consequência das longas refeições a base de carboidratos – mas fato é que os italianos não sentem culpa nenhuma em por vezes não fazer nada. E isso não deveria ser tão difícil. Mas é.
A evolução humana é fundamentada pelo ímpeto de resolver problemas. Isso desde a criação da roda. Somos movidos a desafios. Curiosos e inquietos, e ao mesmo tempo donos de um velocímetro que ficou louco. Não queremos apenas resolver. Queremos resolver rápido. Em tempo recorde. Queremos resolver os problemas do trabalho das 7h30 às 17h30, das 17h30 às 22h30 nos desenvolver pessoalmente buscando elevação espiritual, educacional e financeira, e das 22h30 em diante dar conta de algum romance, de alguma família, de algum prazer no nosso “tempo livre”, tudo isso antes de parar – apenas quando inconscientes – desfalecidos na cama. A gente desaprendeu a respirar, e começou a pirar um pouco – ou muito, no meu caso. Tudo em prol de resolver, resolver, resolver.
Por conta de toda essa nossa necessidade de resolver tudo, o tempo todo e muito rápido, a humanidade aprendeu a não tolerar mais a ociosidade. Ora que pena. Esqueceu-se que dela surge o processo criativo. As decisões mais ponderadas. Que do ócio brota o encontro com a intimidade. A tolerância com as nossas escolhas, e com as escolhas dos outros. Não acreditamos mais que este repouso possa ser em respeito ao timing das coisas, pois não conseguimos aguentar que nem sempre a gente vai saber tudo com hora marcada. Não aceitamos que uma solução possa não ter um deadline. Que nem toda crise obedece a nossa ansiedade por resolução. Tivemos que criar um “clube de nadismo” pra nos permitimos à prática. O que aconteceu com simplesmente “deixar estar”?
Eu sei, eu sou aquela que disse que é preciso ir embora, é preciso mudar, é necessário evoluir, trocar de perspectiva, se reinventar. E eu reforço tudo isso. Além de todas essas necessidades, eu acredito, apoio e defendo a necessidade de respeitar o tempo. Ter fé nele. Confiar nele. Que às vezes é melhor ficar parado a dar um passo na direção do retrocesso. Que por hora pode ser mais produtivo não fazer nada, a fazer algo pra se arrepender. Escolher a doçura do ócio, ao amargor de uma ação não-pensada. E acima de todas as coisas, deixar a ‘mente quieta, espinha ereta e coração tranquilo’ antes de sair por aí decidindo a vida. Entrando em pânico. Indo embora pelos motivos errados. Mandando cliente a merda. Mandando qualquer um a merda.
Na semana passada, levei meu amigo e produtor a uma palestra de uma escritora que escreveu seu livro inteiro no celular durante o caminho de Santiago de Compostela e sua experiência durante a jornada. Na volta do evento, o Christopher me repimpava de ideias promissoras, planos de ação e projetos para o meu livro, com inúmeras alternativas e decisões a serem tomadas quase que imediatamente. Olhei pra ele com olhos desfocados de pavor e dúvida por não saber o que fazer. Eu estava refazendo a peregrinação do Caminho de Santiago na minha cabeça (que fala justamente sobre o timing das coisas), enquanto ele já estava voltando com os suvenires.
Agradeci intimamente a pressa empolgada e coragem nas ações que ele inspirava. Ainda assim interrompi o empurrão com toda a doçura que me cabia – “Chris, enquanto não souber o que fazer, vou fazendo aquilo que sei. Ok?”. Ele deu um sorriso largo, concordou e mandou-me anotar a pérola. Ali ele entendeu que eu não estava sugerindo me jogar nas cordas, ou promovendo a procrastinação – muito embora ele vá continuar dizendo que é isso que eu estou fazendo só pra me provocar. Mas entendeu que fruta madura tem mesmo que cair sozinha do pé, e que são estas as mais doces do pomar. Tal como as boas decisões e as boas ideias. Que para todo amadurecimento, de ideia ou sentimento: o tempo.
E se até lá for preciso: Dolce far niente.
Fim da sessão.
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