Recomeçar a escrever depois de meses de auto-análise, foi tão desafiador quando recomeçar a vida em outro canto do mundo. E talvez por isso esse hiato sem deitar aqui neste divã publico. Eu me entreguei aos tropeços, dores e alegrias de me reinventar e para isso eu precisei de espaço. Quando eu decidi ficar um tempo fora de casa, onde quer que “casa” seja, afinal de contas, lembro de me dar conta do quanto estava sendo sensata, ainda que insegura. Sabe, às vezes quando as nossas asas ficam fechadas por algum tempo, o peso delas em nossas as costas, faz o medo de voar simplesmente desaparecer.
Então lá em setembro eu estava frente a oportunidade de voltar a Londres, cidade que forjou alguns dos traços mais lindos da minha liberdade. Mas a verdade é que a cidade tão pouco era aquela que me recebia há 10 anos. Ora, como julgar, afinal eu também já não era mais a mesma. A maior ironia desta transição, eu posso dizer, é que sempre que eu peço pra Deus/vida/destino, me conceder algum tipo de qualidade, seja ela paciência, compaixão, coragem, Deus/ vida/destino jogam na minha frente 1 milhão de oportunidades para exercitar os aprendizados daquilo que pedi. Talvez o nome disse seja karma.
Assim, eu saí do país pensando em dar um tempo no cenário político brasileiro que tanto me assombrava, para dar de cara com o BREXIT da Inglaterra, esse, que efetivamente podia interferir nos meus planos de curto a longo prazo. Eu literalmente adentrei novas fronteiras tendo o medo de não poder ficar, exercitando muita paciência, comprometida a entender um sistema político-burocrático conservador que eu não concordava, mas do qual eu dependia. Ironia não é mesmo?
Quando cheguei nesta cidade, há poucos meses, eu ainda carregava vestígios de um coração machucado por noivado desfeito e uma rejeição sem precedentes. E qual não foi a minha surpresa que eu precisei a aprender a ser rejeitada diariamente também por aqui, sem a chance de perder a perseverança. O processo de alugar quarto exigia que eu fizesse entrevista atrás de entrevista com moradores de casa, para impressioná-los em 15 min, ouvir incontáveis “nãos” até o primeiro “sim”. E depois do primeiro sim, dividir o mesmo teto com alguém que adora a cultura de dois pesos e duas medidas e muda as regras conforme lhe convém. Uma ótima (e pentelha) oportunidade que a vida me jogava, para diferentemente da última vez que dividi um teto, me forçar a falar as minhas verdades, ou invés me acomodar no egoísmo alheio.
No trabalho eu tinha decidido que ia fazer tudo diferente por aqui. Lembro-me de que eu queria vir pra cá também para aprender, ganhar mais, e trabalhar menos. Entretanto quando tive a oportunidade, não quis abrir mão de nada. Eu ganhei mais, sim. Já aprendi pra caralho. Mas não diminui, e cheguei a trabalhei 7 dias por semana durante meses, porque eu passei ter um relacionamento sério com as minhas responsabilidades, sonhos e paz de espírito. Porque eu entendo cada vez mais que trabalhar é a ferramenta de como a gente contrói os nossos planos. Eu quero poder pagar meus boletos, a matrícula dos meus irmãos, quero ajudar a minha mãe, colaborar com a empresa do meu pai, atender meus clientes, e ainda assim, beber vinho da Escócia. E estas coisas exigem transpiração, mais do que inspiração. Não tem atalho.
E por falar em inspiração, a minha família, que foram as primeiras pessoas a serem consultadas sobre meu novo plano, os primeiros a me apoiarem, também se mostraram um desafio. Isso porque neste pouco tempo distante, a cada notícia ruim que eles dividiam, eu tive vontade de jogar tudo pro alto e de chamar um Uber para me levar direto para perto deles. Felizmente eu me obriguei a confiar que eles saberiam como conduzir suas vidas sem minha presença física (e que a Uber não faz esse tipo de viagem). Também entendi que são estes momentos que testam o quanto a gente pode ficar junto, mesmo separado.
Nos últimos tempos, eu estive desperta para cada novo aprendizado, naquela intensidade que me é tão natural. Entretanto agora, diferente dos 25 anos que marcaram minha primeira vinda, nesta quinta-feira eu comemoro os meu 35 anos de vida em Londres, tendo muito mais compaixão comigo e com essa oportunidade. Hoje eu tenho a tranquilidade de que as decisões não precisam ser definitivas, mas precisam ser vividas no momento presente. Sei também que o mundo é pequeno para quem tem saudade. Que tenho uma porção de gente protegendo meu caminho. E que dá pra recalcular a rota e bater asas sempre que ficar pesado.
Eu não tenho certeza dos planos, do tempo, ou do propósito que eu estou construindo. Apenas aquele meu velho compromisso de ser a versão mais genuína de mim mesma. Em qualquer lugar do mundo.
Meu pai dia desses me perguntou pelo telefone como eu sei que a minha felicidade está em Londres, e eu respondi que não sabia. Que nunca soubera se ela estava em Londres, na Italia, na Austrália, ou na cidadizinha que cresci no sul do Brasil. E o fato de não saber me ajudava a tomar uma decisão simples. Por não saber onde a felicidade mora, é que eu carrego ela sempre comigo.
Beijos de Londres. Por hora.
Fim da sessão
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