Aos meus erros, obrigada.
2016 tá me parecendo meio zicado sabe? Além do pandemônio em volta do zika vírus, a economia parece que segue doente, a política celebra o grande circo que sabe ser, e o social anda em pé de guerra com o politicamente correto. Sim, o Leonardo di Caprio finalmente ganhou o Oscar, (e teve que ser devorado por um urso pra isso), mas no resto do nosso drama diário é outra história. Chego a alegar que pensar em dias melhores, às vezes é digno de Glória Pires, “não sou capaz de opinar”.
Desde que decidi deitar no divã pela primeira vez, me vi enfrentando a difícil tarefa de desassociar do outro, as consequências negativas na minha vida. Assim, foram anos enfrentando crises e encarando problemas pessoais, numa análise profunda de causa e consequência, efeito e ressonância. Após muito treino, foi tornando-se natural o processo de assumir os meus próprios erros, e deixando de responsabilizar os outros por eles. De certa forma, eu passei a entender que as minhas quedas eram muito mais tropeções, do que rasteiras. Afinal, se eu sou a autora da minha vida, como posso entregar a caneta a outrem?
Ainda que vivendo em dias tensos, não consigo desacreditar que a solução das minhas angustias está no outro. Óbvio que eu também me indigno com o ICMS, a falta de incentivo à educação e funk “Tá tranquilo, Tá favorável” (até porque não tá nem um nem outro). O que eu não consigo pensar é que chorar num cantinho frente às dores do mundo, vai resolver qualquer uma das minhas. Até porque ter raiva de alguém, só causa efeito em mim, e não colabora para solução de dilema algum. Culpar meu trabalho da minha falta de dinheiro, não faz cifras extras entrar na minha conta. E praguejar o meu cupido, não coloca Mark Ruffalo na minha porta (eu sei que ele é casado, mas uma garota pode sonhar). Então veja que depositar em outros ou em outras coisas, as nossas frustrações, é tão eficaz quando mascar chiclete pra curar dor de cabeça.
O que reparei nessa mudança de sistema, é que uma vez assumindo que eu sou responsável por todo desvio na minha jornada, eu também me tornava dona do leme, e mais preocupada em aprender o meu caminho. Não que eu não comemore meus acertos, e os divida com outras pessoas. Sim, eu celebro as minhas conquistas e compartilho os meus méritos. Os erros não. Os erros eu quero que sejam somente meus, pois através deles costumo aprender mais e melhor. Os erros me fazem mais esperta. Ajudam-me a desacelerar o carro, a pagar minhas contas em dia, a fazer exames preventivos. Os meus erros me tornam mais tolerante com os erros dos outros, afinal, quem nuca? O que não quer dizer que eu preciso errar sempre para aprender. Mas confesso que algumas das lições mais difíceis e duras que aprendi, foram em momentos de distresse, e de juntar a própria carcaça do chão, pra começar tudo de novo. Ou seja, os erros me tornaram mais resiliente. Persistente no caminho do sucesso. Ou até teimosa, como diria a minha mãe (claro que teimosa é ela, que teima comigo).
A desvantagem de assumir os próprios erros é a baixa tolerância ao mimimi alheio. Quando você passar a pegar as suas limitações pelas bolas e encará-las de frente, é difícil ter respeito por quem transfere toda e qualquer culpa de seus infortúnios. “O meu trabalho não me reconhece/promove/dá aumento”. “O meu relacionamento terminou por causa das amigas/filhos/manias dela(e).” “Eu não emagreço”. “Meus pais não me incentivam”.”Eu sou mesmo um azarado (sobra até pro cosmos)”. Ok, a vida sabe ser dura às vezes, mas passar por ela justificando baixo rendimento ou infelicidade é assumir uma atitude perdedora. E o que mais desmotiva em lidar com pessoas como estas, as reclamistas, as mimimis, as eu-não-tive-uma-chance, as a-culpa-é-da-vida, é que elas limitam por completo seu poder de aprendizado ou superação. Não tem como você aprender com os erros, se você transfere a responsabilidade deles pro vizinho/mãe/ex-mulher. Errar dói, sim, assim como aprender e crescer (e aparecer). Agora o que pode condenar alguém ao conformismo e dodoísmo por uma eternidade, é transferir pros outros a única possibilidade de mudar o rumo das coisas na própria vida.
Então eu vim aqui solenemente agradecer a todos os meus erros, que moldaram uma versão melhor de mim mesma. Vocês, meus professores dedicados, de castigos adequados e lições valiosas, a vocês a minha sincera gratidão. Através de vocês, meus deslizes, mancadas, enganos, equívocos, eu calibro a minha expectativa e compaixão. Eu compreendo o valor dos meus acertos. E a medida da minha força. Através de vocês, eu me torno dona única e exclusiva do meu sucesso, dos meus sonhos e da linda história que quero escrever. Aos meus erros, muito obrigada.
Agora, você que tá aí, sentando no cantinho, chorando com as baratas, se quiser continuar dizendo que a responsabilidades dos desacertos não é sua, pode ficar bem à vontade. Afinal a culpa é sua, você joga ela em quem quiser. 😉
Fim da sessão.
Sonia Polo
Muito interessante esse efeito subjetivo de responsabilidade pela própria vida. Só quem vivência entede.
Mari
Sua linda, estava sumida por aqui (my bad), mas tirei o Domingo para matar as saudades de vc e dos seus textos. E já comecei levando um tapinha na cara de reflexão hahahah
Ana Teté
É tanto orgulho em um texto só, que meu coração parece nem caber no peito! Aos meus erros, à você e ao meu terapeuta (ahahah como não): OBRIGADA!
Bjoos
Antônia no Divã
HAHHAHAHAHHAA. “Ao meu terapeuta, muito obrigada!” Te gosto, linda! <3