Ontem me peguei chorando pela rua.
O vento bagunçava meus cabelos, as folhas das arvores chacoalhavam como percussão musicando o meu caminho. E como em raras oportunidades (e que sem CNH, futuramente nem tão raras) voltava a pé do trem, e passei pela cobertura dourada – palco de tantas das nossas estripulias – de onde o céu brilhava com ares superiores (porque se dissesse “angelicais” tu farias piada).
Ontem me peguei chorando pela rua. Mas era um choro alegre. Ri da sorte que tenho de viver contigo dentro de mim.
Sabe, irmão, eu te culpei por ter me deixado, porque uma vez a minha vida já foi perfeita. Mas ontem, caminhando despretensiosamente pela rua, e por motivos que fogem a minha compreensão, eu entendi que ela segue sendo perfeita – afinal ela só tornou-se perfeita um dia, porque nossos carmas se cruzaram/escolheram.
Hoje cada vez que fico perdida, olho para aquela cobertura – a mais alta da cidade – como um farol me orientando pelo mar revolto – e ele anda tendo dias de ressaca (não das boas).
O farol, ele próprio, tem um paradoxo interessante – pois é responsável pela luz, da mesma forma que é pela escuridão. Nada mais justo, sabendo que a vida e a morte também tem o mesmo apelo contraditório. Luz e escuridão. Perder e encontrar-se. Chega a ser poético.
E eu vou seguir te sentindo perto, e falando contigo como se estivesse caminhando do meu lado. E de certa forma está. Talvez por isso a vida vá seguir sendo perfeita.
The perfect life.
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