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Adeus, tchau e até logo

Escrevo essa sessão de um lugar que gosto mais que um bom divã. Um aeroporto. O dia não amanheceu ainda, mas o meu pânico de perder um voo por conta do trânsito, me trouxe ao aeroporto Internacional de Guarulhos um pouco depois das 4h da manhã. Munida de um café hiperinflacionado, eu observo a movimentação sonolenta de funcionários e passageiros que como eu, aguardam as horas mais efetivas do dia. Não sei por que demorei tanto para comentar sobre essa viagem aqui. Talvez porque ainda que esteja a algumas horas de cruzar o globo, essa viagem tem um ar de tranquilidade e pouca presunção. O destino já é conhecido: Austrália, com alguns dias de pura alegria na Indonésia. Tempo estimado de viagem: 2 meses. Ou seja, eu vou logo “ali” e “já” volto.

O que me impressionou nesta viagem em particular foi a comoção alheia com a movimentação que, em tese, dizia respeito apenas a mim. Amigos, familiares e conhecidos, dedicaram bom tempo a especulações sobre o meu retorno e sobre a intenção com o meu deslocamento para lá onde Judas perdeu as botas (Timberland, possivelmente).  Não importava quantas vezes eu explicasse com tranquilidade que logo voltava e minimizasse o drama envolvido em alguns dias de ausência física. Sim, física, porque depois do Whatsapp, ninguém tem um minuto mais de reclusão na vida. Houve lágrimas, ansiedade crescente e horas de explicações pouco compreendidas (pra não dizer abafadas pelas lágrimas infundadas).  Para muitos, a minha viagem não era logo “ali” e tão pouco era um “já” volto.

Acuso esse fenômeno desconcertante que precede uma viagem, como a síndrome do  desconhecimento sobre a diferença entre o adeus, o tchau e o até logo. Não posso ser injusta com meus amigos. Ora, eu sou uma viajante incorrigível, então a ideia de eu não voltar a criar raízes não é tão absurda. Isso agravado pelo fato de que meu retorno do mundo para a pequena cidadezinha que chamo de lar no interior do Rio Grande do Sul, nunca ser suave. É como tentar usar dois pares de sapatos nos meus únicos dois pés.  É um desequilíbrio constante tentar existir perto da minha morada fixa, e aquela que habita o peito e segue solta pela estrada. Existe também chance de encontrar um amor em outros portos. A possibilidade de um livro. A conquista de uma nova cidadania. Ok, talvez eu tenha sido dura demais avaliando o drama envolvido das minhas despedidas. Eu tenho muito pelo que partir.

Mas eu também tenho muito pelo que voltar. Certo dia, um amigo que mora justamente na Austrália, me perguntava do que eu mais gostava na minha pequena cidadezinha, afinal eu havia trocado o mundo, para voltar pra lá. E a minha respostar não podia incluir a minha família e amigos. Fiquei consternada ao descobrir que além dos meus amores, o meu bar preferido era a única coisa que ocupava a minha lista. Ok que o bar em questão fazia tele-entrega de bêbada na minha casa, vez que outra quando necessário. Mas ainda assim, não conseguia justificar que meu único elo com a cidade se resumia ao local onde eu bebia. Em conversa com o dono do mesmo bar, reclamava preocupada sobre meu drama, quando ele me mostrou que a pergunta do meu amigo era injusta.  Porque o “além da minha família e amigos” imposto na minha resposta, era justamente o fundamentava todo meu existir. E até a escolha do bar só reforçava o meu “além”. Porque era onde eu encontrava com quem eu amava, além da minha casa.

Eu evitei despedidas antes de chegar a este aeroporto, hoje, às 4h da madruga. Mas o meu esforço foi totalmente em vão. Vivi os últimos dias com gente que fez plantão na minha casa, até quando eu dormia, para ter certeza de que curtiriam os últimos momentos, antes dos próximos, na minha companhia. Recebi mensagens de quem eu sequer avisei sobre a minha partida. Eu bebemorei amizades mais do que meu corpo aguentou nas últimas horas, e confesso que meu fígado odeia despedidas mais do que eu, neste momento. Eu vi meus pais reforçarem o poder das minhas asas, mais do que a importância do meu ninho, provando que amor é mesmo deixar livre para poder voltar. E que embora todo mundo duvide da diferença entre adeus, tchau e até logo, tem algumas certezas que são irredutíveis. De que às vezes é preciso ficar longe de todo mundo, para poder ficar perto da gente mesmo. E que nada no mundo é melhor do que ter motivos pelos quais voltar pra casa.

É bom ir embora pelas razões certas, eu garanto. Mas nada supera voltar pelas mesmas ou novas razões. E se existe dúvida em relação onde e porque a gente faz raízes, não existem dúvidas de que somos todos passageiros. Então faz sentido apenas aproveitar a viagem. Cheia de partidas e chegadas. Despedidas e reencontros.  A vida é muito curta para ficar parado, e importante demais para não ter ao que se apegar.  Então acreditem, eu vou até “ali” e “já” volto. Bon Voyage.

Fim da sessão.

Ps: O divã segue com suas sessões, com cronograma um pouco bagunçado em razão de fuso, e horas intermináveis de diversão. A meta inclui o famoso livro, que eu comunico aqui com a intenção única de botar pressão em mim mesma. Quem quiser curtir o divã na estrada pode me acompanhar pelas redes sociais – Facebook ou Instagram (@antonianodiva). Mandem dicas, convites para café e cerveja além dos mares, ou apenas seus desejos de boa viagem. É preciso ir embora, sim,  mas não quer dizer que não quero todos vocês juntos comigo. Vem também.

 

Antônia no Divã

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