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A viralização do byebye

Confesso que fui pega de surpresa pela repercussão do texto                 “É preciso ir embora” publicado na semana passada. Foram quase 450mil acessos e tamanha interação que até mesmo o site precisou ir embora e saiu do ar por algumas horas. Eu fiquei inquieta, para dizer o mínimo.

Como estou aqui mesmo para questionar, me peguei pensando em algumas teorias para o que chamei de viralização do “byebye”.  Alguns gatilhos e análises me ocorreram:

(1) A teoria do barco afundando:

“Isto aqui tá uma merda, vou-me embora!”

Não sejamos inocentes. Indiferentes da crença sociopolítica de cada um, seja você direita, esquerda, em cima, em baixo, puxa e vai – existe um descontentamento geral e um senso de vulnerabilidade nacional muito grande. Sim, somos um país em momento de maremoto, e há quem diga que nosso casco está quebrado. Ok, isto pode motivar uma debandada geral, mas atenção. Que isto não seja o seu principal motivo para pegar as trouxinhas e pular do barco. Lembre-se, a grama do vizinho é sempre mais verde – mas somente até você pisar nela.

Confesso e reconheço que aprendi a amar o Brasil ainda mais quando o enxerguei do lado de lá.  Somos um país grande, heterogêneo e cheio de defeitos.  Ao mesmo tempo cultivamos qualidades que ninguém mais tem. Ninguém! Uma brasilidade linda, inventiva, rica e colorida que só se acha na terra descoberta por Cabral. O abraço amigo e sorriso largo a cada esquina – (sofri muito com abstinência de abraços). Além disso, devemos lembrar que quem navega esse barco (furado ou não) somos nós. Se for mau marinheiro aqui, vai ser também acolá. Então não fique gritando aos sete ventos que você quer cair fora porque não aguenta mais e           “a culpa é dos brasileiros”.  Novidade: Você também é brasileiro.

(2) A ditadura do intercambio:

“Vou fazer intercambio porque todo mundo faz”.

Há quem ainda caia nesta roubada. Intercâmbio ainda é relacionado com status, garantia de hierarquia corporativa e até mesmo tema de sertanejo e funk ostentação. Pois aqui vai um conselho de minha sábia mãezinha, você não é todo mundo! Não bote o pé na porta a não ser que seja um desejo genuinamente seu. Não minimize a experiência sendo um maria/joão-vai-com-as-outras.

Seja autentico na escolha dos termos, do lugar, do tempo e dos objetivos. Evite mudar de país para poder botar no currículo. Mude pra poder botar a mão na consciência daquilo que quer ser do futuro.  Eu escolhi a Inglaterra para virar uma Spice Girl ou alternativamente me casar com o Príncipe Harry (+ um MBA de bônus na experiência). E aí, quem aqui vai ousar questionar os meus motivos? Não interessa se é pra aprender uma nova língua, criar cabras ou entrar para a realeza – os motivos devem ser só seus.

(3) A fuga das galinhas:

“Preciso ir pra longe do meu ex / dos meus pais /da final do campeonato brasileiro”.

A pior e mais amaldiçoada razão para ir embora – querer criar distância física de algo com o que você não sabe/quer lidar. Não fuja de nada e nem de ninguém. Simplesmente porque não há como se esconder da pessoa mais importante nesta decisão: você. Faça do ato de ir embora um novo fim e um novo início, mas não se esconda de outras histórias, suas histórias – são delas que vais tirar o aprendizado para fazer melhor em oportunidades futuras.

E não fuja de você. Você até pode se reinventar, mas a gente não se livra da nossa essência. Você vai tentar se livrar dos maus hábitos, jurar comer melhor, tomar apenas Bourbon & Coke, passar fio-dental todas as noites.  Relaxe na expectativa. Você vai melhorar, vai sim, mas também vai aprender que muito do que você achou que ia mudar lá fora, era mais forte do que você. E desta forma vai passar a se aceitar. Acredite: é somente quando você se aceita, que está finalmente pronto para conseguir mudar. Irônico, não?

(4) Adeus Zona de Conforto:

“Mundão, fui!”

A única teoria que tem a minha campanha, e graças à sanidade mental da grande maioria, aquela com maior incidência. Vá embora porque você ousou sair da sua zona de conforto. E aceite: vai ser desconfortável!

Você vai descobrir mais rápido do que pensa que os desafios são imensos – desde as oportunidades de trabalho oferecidas (que pode envolver até limpar banheiros alheios), ou mesmo dilemas pessoais que você nunca achou que teria que lidar (como uma infestação de ratos na própria casa ou ter que explicar para um farmacêutico – que desconhece inglês ou doenças tropicais – que você está com um bicho geográfico na bunda). As lições são das menos às mais profundas.

O que você leva da experiência é impagável e atemporal, eu prometo. Afinal você vai gozar das vantagens da tal PERSPECTIVA, aquele avião lá em cima. E com isso, involuntariamente vai ter mais coragem de abraçar o mundo e enfrentar seus dilemas. Vai aceitar que muita coisa é passageira. Vai procurar estrutura e equilíbrio dentro do próprio peito, e não nas pessoas ao teu redor. E vai ter – para o resto da vida – a maldição de ter o coração sempre dividido em dois (ou mil). Entre cá e lá. Entre ir embora e ficar. Entre permanecer ou mudar. Vai ser sempre amargo e doce. Chegadas e partidas. Reencontros e despedidas. Afinal, não dá pra ter tudo fora da zona de conforto.

Mas se está convicto que está indo pelos motivos certos, vá embora sem medo. Vai porque você acredita mais na estrada, do que no destino. E também porque deve aprender a ser ótima companhia pra si mesmo. E se isso vale pra uma viagem, não se esqueça de que a verdade é a mesma para a vida:

(1) Você é capitão do próprio barco, tape os furos do casco, pegue no leme. Se vai errar as rotas algumas vezes, tudo bem, só não fique a deriva.

(2) Quem manda na sua vida é você. Lembre-se do que minha mãe falou, você não é todo mundo. Esqueça as ditaduras, faça as próprias regras.

(3) Não fuja de nada, nem de ninguém e muito menos de você. Se aceite para então mudar!

(4) E por fim, dá um “beijo e me liga” pra zona de conforto. Prometo que você nunca mais vai querer voltar lá pra dentro.

Fim da sessão.


 

Nota sobre os comentários enviados no post “É preciso ir embora”: Vi meus olhos brilhando com as interações do texto. Não apenas comigo, mas entre os autores dos comentários. Trocando ideias muito mais do que farpas. Dividindo histórias mais do que lados. Distribuído apoio, coragem e doses de incentivo.

Vocês são mesmo muito lindos! 

Antônia no Divã

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Antônia no Divã

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