Suspiros

Intolerante a borboletas

em
12 de maio de 2015

Sabe aquele momento que você se dá conta que começou a gostar de alguém novo e sua barriga se enche de borboletas? Aquela sensação de não pertencer completamente a você mesmo? De tremelicar quando o telefone toca? Ou ter uma mini-taquicardia com o interfone? Sabe aquela fase de se pegar constantemente relembrando momentos fofos? Pois então. Eu odeio essa fase.  Ok, talvez odiar seja um verbo um tanto forte. Digamos que eu até aguento essa sensação por 24h –  não mais que isso. A minha tolerância para borboletas é péssima. No fundo acho que o que devo ter alergia.  Sou intolerante a lactose, glúten e também a borboletas.

Não precisa nem ser amor. Basta ser interesse, carinho ou mesmo desejo. Se a pessoa me tem, nem que seja um pouquinho, eu sofro um ataque alérgico beirando o epilético. Talvez o motivo da intolerância a borboletas seja o mesmo da lactose e do glúten: excesso de consumo ao longo dos anos. Possivelmente eu já amei mais do que devia. Hipoteticamente pode ser que eu tenha medo de me entregar de novo. Fato é que na fase das borboletas eu desenvolvo uma condição de estresse e sabotagem tão grande, que o amor tem dificuldade de florescer. Meu coração vira ambiente inóspito.

É como se eu perdesse completamente o controle, a decência e a noção, os três juntos.  Eu quero dizer “fica mais um pouco”, mas as palavras tropeçam na minha língua presa e saem como “tu não está atrasado?”. Se o objeto do meu desejo está no mesmo ambiente que eu, desempenho uma coreografia que intitulo “agindo normalmente”, mas que parece uma garça constipada tentando fazer yoga. Eu fico oscilando entre o “obviamente estou na tua”, com desaparecimentos eventuais que podem durar 12h ou 3 dias. “Mas deste jeito como o cara vai te entender, Antônia?” – minha mãe pergunta, enquanto me encaminha um e-mail com um prospecto de curso chamado “COACHING NO AMOR”. (Não mãe, eu não vou fazer o curso). Mas ela tá certa, eu fico muito atrapalhada. Culpa das borboletas, essas malditas!

Quando ele está comigo e por algum motivo começa a mexer no celular, eu fico futricando no meu também só de raiva, mesmo sem ter UMA pessoa que quisesse falar naquele momento. Se o whatsapp dele está online, e ele não está falando comigo, tenho o instintivo desejo de aparecer na casa dele, arrancar-lhe o aparelho das mãos e estraçalha-lo no chão. Assim sabe, atitudes super plausíveis e justificáveis (revirando os olhos).

Se recebo retornos como “talvez” ou “a gente vai se falando…”, tenho vontade de ligar para aquele contato que não vale nada, mas que vai querer me ver/comer “com certeza” ou “pra ontem”  – só para preencher o despeito criado pela incerteza de quem eu queria com certeza. Tenho súbitos de luxúria que me inflamam o sangue, e entro em módulo “diabo no corpo”. Quero sentir o peso de alguém em mim, apenas para não admitir que sinto falta de um calor específico. Queria muito me jogar nos braços de um canalha nestas horas. Mas o fato é que perco tesão por todo mundo quando me interesso por alguém.

Aí eu embebedo as borboletas para ver se elas se afogam logo e me deixam em paz. Elas, que pelo tamanho do desconforto só podem ser pterossauros se debatendo nas paredes do meu estomago.  Nestas horas eu temo pela minha sanidade e paz de espírito. Crio teorias absurdas na minha cabeça. Psicopateio sozinha. Argumento DRs infinitas comigo mesma. Atormento as amigas.  Fico exausta. E mais uma vez concluo que a ideia de paixão, interesse, “estar afim”, é coisa pra maluco. Que o  seguro mesmo é manter os pés no chão e a mente focada em criar codornas, e não expectativas.

Mas aí ele liga e convida pra ver um filme. E eu respondo com meu “sim” mais polido e casual, para que ele não perceba a tempestade que este estágio me causa. Eu fecho os olhos para beijo-lo torcendo que assim ele não possa enxergar minha alma atormentada. Eu tranco o suspiro quando tenho um orgasmo com medo que eu exploda em declarações de bem querer. Eu disfarço o meu acanhamento, quando ele investe na mais sexy de todas as posições, quando pega na minha mão. Evito encarar os olhos dele quando conversamos – enquanto ele massageia minha panturrilha – por morrer de medo que meu coração descongele de vez.  Afinal, gelo com calor vira água, água faz florescer e o florescer traz mais borboletas. Essas malditas.

Talvez a minha grande confusão é que hoje eu até já aprendi que eu nunca vou morrer de amor. Mas de borboletas, ahhh… essas são perigosas.

Alguém tem um sal de frutas?


Fim da sessão.

 

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37 Comments
  1. Responder

    Daniella

    5 de junho de 2015

    Acho seus textos simplesmente sensacionais…mandei o link para todas as minhas amigas…se identificaram muito com o texto.
    Obs. Eu particularmente gosto muito do “É preciso ir embora”..leio e releio várias vezes.
    Parabéns por escrever como se cada um que está lendo estivesse vivendo cada palavra.

  2. Responder

    Beatriz Coelho

    28 de maio de 2015

    Texto lindo, aiii essas boboletas, me deixam sem folego, que coisa mais boa, mesmo que por alguns momentos…..Adoro a sensação.

  3. Responder

    Izabela

    28 de maio de 2015

    Parabéns, parece até que fui eu, quem escreveu o texto. Me sinto exatamente assim. Algumas vezes que tive essas borboletas no estômago, me ferrei..Mas não perco a fé!!

  4. Responder

    Gisélli

    26 de maio de 2015

    Muito “massa”! Deu até saudades dessas borboletas rs…Mas pensando bem…qdo elas não me deixavam em paz, era a treva! Fazia mta merda hahahahaha….Sem borboletas é melhor rs

    • Responder

      Antônia no Divã

      3 de junho de 2015

      Mas como dizem por aí, é fazendo merda que se aduba a vida (ou o amor?). hahaha. Beijos, Gisélli. sempre bom te ter aqui!

  5. Responder

    Jhu

    21 de maio de 2015

    Totalmente eu, Antônia. Coisa de louco mesmo, ora sente amor, ora sente raiva! :p

  6. Responder

    Nara

    19 de maio de 2015

    Antoniaa, por acaso essa sessão foi minha?!
    Não sei se vc pensa mt sobre, mas meus pensamentos quase me asfixiam, me causam insônia e raiva. Aí eu choro com meu travesseiro.. Hahahah. . Mas esse coach aí que sua mãe sugeriu..

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Nara, achei que você tivesse escrito e me mandando por telepatia. Não foi?! hahah. Vou te mandar o prospecto do curso. HAHAHAHHAHA. A loca. beijos

  7. Responder

    Marília Sena

    17 de maio de 2015

    Malditas borboletas, sim! Pior ainda quando decidem bater suas asinhas por quem não deve.

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Aí são borboletas safadinhas! hahahah

  8. Responder

    Anna

    15 de maio de 2015

    ahhh eu amei.. sou casada há 2 anos e ainda sinto as ”malditas borboletas” toda vez que o telefone toca ou quando ele toca a campainha de casa! <3

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      ai que delííííícia!!!! <3 <3 <3

  9. Responder

    Dani Souto

    15 de maio de 2015

    Mais um texto fofo! <3

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Mais um comentário fofo! <3

  10. Responder

    Ana Teté

    13 de maio de 2015

    Eu acredito que antes de encontrar meu grande amigo, companheiro e amor, eu deveria ser um pouco masoquista, quer dizer, um pouco não, muito, pq eu amava essas borboletas, agora ficou mais claro do por que eu “apanhava” tanto delas rsrsrs…

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Teté, quem sabe todas nós sejamos um pouco masoquistas mesmo. Como julgar, né? hahahah. beijos

  11. Responder

    Gabriela

    13 de maio de 2015

    Eu adoro essas borboletas, diferentes, nem sempre coloridas… O segredo é aproveitar todas, se entregar ao momento, e não criar espectativa no futuro!

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Codornas, né Gabriela?! E não expectativas! hahahah. beijos

  12. Responder

    Kelly

    13 de maio de 2015

    Parece que fui eu que escrevi o texto! Nossa, estou sentindo exatamente todos os sintomas que vc descreveu! E eu odeio essa fase tb! To tentando afogar as borboletas, mas nem com muita bebida as desgraçadas me deixam em paz! O pior é que dai bebo e mando msg! Ai que terror!

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      HAHAHAHHAHAHAHHA. Ri alto desde comentário. parece que fui quem escreveu! assim como você quem escreveu o texto. tudo louca!

  13. Responder

    Carine

    13 de maio de 2015

    Adorei! Comecei a ler hoje teu blog e já estou amando!!

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Ebaaaa! Então volta sempre, Carine. beijos

  14. Responder

    Dulce

    12 de maio de 2015

    Quando me sentia assim, a sensação, os devaneios, as atitudes eram semelhantes e acredito que todos apaixonados são assim… hoje, tem tempo que não sinto as borboletas mas… que saudades delas!!!!!

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      é coisa pra maluco, mas antes com elas que sem elas, né Dulce? beijocas

  15. Responder

    Anônimo

    12 de maio de 2015

    Espetacular! Sem mais

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      ui. adoro!

  16. Responder

    Lary

    12 de maio de 2015

    Muitooo bom Antônia.. Sempre me sinto assim tbm, pensava q era só eu haha.. Adorei !

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Lary, somos loucas todas juntas. Fica tranquila, não estás sozinha! beijocas

  17. Responder

    Bruna

    12 de maio de 2015

    Ai, me vi em cada letra deste texto. Malditas borboletas, por que não continuaram lagartas pra sempre?

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      a gente não pode mesmo contra a evolução da natureza, Bruna. hahahah. beijocas

  18. Responder

    N

    12 de maio de 2015

    O pior é quando te fazem prender as borboletas e depois simplesmente abrem a “gaiola” e as soltam. Isso é desgastante! Vontade tenho eu de nunca mais me apaixonar :/

    • Responder

      Anna

      15 de maio de 2015

      não desanime N, uma hora irá aparecer alguém que não deixe essa portinha da gaiola se abrir nunca mais 🙂

      • Responder

        Antônia no Divã

        19 de maio de 2015

        sua fofa!

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Eu te entendo. As vezes tenho vontade de estraçalhar a minha gaiola antes que alguém abra as portas dela. Mas aí penso que sentiria falta desta sensação. Você não? Beijos

  19. Responder

    mirna nunes

    12 de maio de 2015

    Amei….mas faz tanto tempo que não sinto essas tais borboletas !!!!!!! Rssssss

    • Responder

      Antônia no Divã

      19 de maio de 2015

      Oi Mirna! Como assim?! Vamos plantar mais flores então! hahahah beijocas

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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