Suspiros

Ele é de câncer

em
18 de janeiro de 2017

Não sei o quanto a influência do cosmos interfere na relação das pessoas, mas nunca neguei a forte presença de aquário na maneira como eu levo a vida.

Já tive virginianos que ferraram com a minha estrutura, em compensação três das mulheres que mais amo e me toleram são do mesmo signo. O meu irmão e também melhor amigo era de peixes, o que fazia sentido já que ele – de peixes- e eu – de Aquário- nos completávamos. Ao contrário, é claro, de muito pisciano que eu já quis matar por viverem no mundo da lua. Ou seja, o horóscopo acerta e erra comigo o suficiente para que eu tenha as minhas dúvidas.

Mas ele é de câncer e acredita no poder das estrelas. Emotivo e intenso, disse que a culpa é do elemento água que rege sua personalidade. Ele me explica que eu sou elemento ar, mesmo sendo de Aquário, o que pra mim não faz sentido. Pouco de câncer faz sentido pra mim. Ele não disputa com a minha liderança como alguém de Leão faria, pois vaidade não é o negócio dele. Tem tantas perguntas sobre a vida quanto Libra, e a energia por metas e novidades como um Ariano. Ele é fiel como Touro, entretanto não gosta de ciúmes. Ele é de câncer, o que é uma incógnita pra mim.

Eu tento ler seus olhos claros, que ele jura que são verdes, mas que eu juro que ficam azuis quando ele está feliz. Talvez seja uma coisa de câncer ser camaleão, em que nem uma coisa óbvia como a descrição dos olhos é simples com ele. Gosta de atenção, e nisso eu culpo o signo – carma também dos meus irmãos gêmeos e de uma amiga manhosa que Londres me deu, todos cancerianos. Ele é de câncer e tem o coração brincalhão. Faz carinho numa hora, e na outra coloca um dedo lambido na sua orelha provando que quem é de câncer não envelhece. Finge retirar a pinta que eu tenho embaixo do lábio e coloca em algum ponto do próprio rosto, em meio à gargalhadas. Ele tem a inocência que alguém de Escorpião consideraria tolice, mas ele é de câncer, so he doesn’t care.

Ele é de câncer, e como todo canceriano, é caseiro e gosta de família. Mas ele admira a minha habilidade social e meu interesse constante pela muvuca, ainda que ele esteja longe de ser um ermitão. O caranguejo dele não apresenta riscos de me machucar, e eu não sei porque isso me atrai, já que eu sempre tive o dedo podre de escolher quem apresentasse a maior probabilidade de me magoar. É observador, e diz que eu sou linda assim que eu acordo, com o rímel que eu insisto em não tirar e que pela manhã me borra até a altura da minha bochecha. Diz que meu cabelo é sensacional, mesmo quando tenho a franja grudada na testa pelo suor provocado pelo calor do sol do meio-dia ou daquele que ele provoca a meia-noite. Ele é de câncer, e parece ser meio louco quando gosta das coisas que eu mais abomino em mim. Mas confesso que “linda” é um estado de espírito que me desperta sempre que o adjetivo cai da boca dele, seguido de um beijo demorado.

Ele é de câncer e sua sensibilidade por vezes beira o descontrole, por isso ele diz que eu sou racional. Logo eu, racional. A dona do divã. Mas eu invejo a sapequice dele e a crença que ele tem de que tudo sempre vai dar certo. Ou do encantamento de como ele olha o mundo. Prova a maturidade emocional dele quando respeita a minha rebeldia aquariana (leia “tolice aquariana”), quando ajo daquela forma de quem diz “eu não sou obrigada a nada”, e concorda que de fato eu não sou mesmo, e assim me ganha mais ainda. Exige meu tempo sem parecer vulnerável ou piegas (até porque o contrário me embrulharia o estômago).

Ele é de câncer e faz pensar que minha tão estimada liberdade é um artigo de luxo dispensável perto do que ele me entrega quando eu me jogo no seu abraço. Perigoso esse signo de câncer.

Já me peguei suspirando alto, ou sorrindo abobada quando ele me explica a força dos quatro elementos nos signos. Acho graça de como acredita que saca completamente as pessoas toda vez que descobre qual é o ascendente delas, ou de como a lua tem efeito sobre as marés e sobre o meu humor. Ele é de câncer e o efeito dele em mim me inspira. Como outros musos inspiradores que já passaram por minhas histórias. Mas ele é diferente, ele é de câncer.

E ainda que eu tenha dúvidas sobre a real influência do seu signo, se ele combina com o meu, ou até mesmo qual a verdadeira cor dos seus olhos, uma certeza fica: eu adoro o jeito como ele olha pra mim. Com seus olhos verdes ou azuis. Mas também, pudera: Ele é de câncer.

Fim da sessão.

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2 Comments
  1. Responder

    Dulce

    19 de janeiro de 2017

    Também sou de câncer. Delícia de texto. Câncer é bem assim.. Apaixonante!

  2. Responder

    Ana Teté

    18 de janeiro de 2017

    Ai que delícia de texto! Logo eu, de capricórnio. Ahahahah… ?

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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