Eu sei quando é Natal quando a minha mãe decide que é Natal. Tudo começa com um pequeno vaso de poinsétia sobre a mesa. Poinsétia, bico de papagaio, estrela de Belém, ou também conhecida como a flor do Natal. É nas suas folhas vermelhas sobre a mesa de jantar que eu sou notificada que o Natal chegou.

Mamãe não sabe brincar de Natal. Ela leva a sério. A decoração da nossa casa competiria tranquilamente com a de um grande shopping. A arvore é meticulosamente arrumada e posicionada em uma janela de frente para a rua – para que os vizinhos saibam que o Natal chegou.

Lá em casa existe uma legião de Papais Noel fazendo de tudo. Tem Papai Noel alpinista subindo o corrimão da escada, tem um a la James Bond pendurado na cristaleira se equilibrando com apenas uma mão. Tem Papai Noel sentado no vaso na pia no banheiro – duvide, e com um xixi lá em casa você vai saber que eu não estou exagerando.

Temos rodízio de guirlandas, trepadeiras de ramos de pinheiros e colares de bolas douradas. Já falei do pinheiro? Sim, meticulosamente arrumado, com seus ramos cheios de neve – afinal estamos no Brasil, neve falsa é mandatório no nosso Natal de 40º graus.

Tem presépio com toda trupe – Maria, José, Reis Magos, Menino Jesus e uma ou duas mulas. Quando eu pergunto as crianças o que simbolizam, eles me dizem “são bonecos de Natal da mamãe”, que se fossem algum brinquedo que ela só brinca em dezembro. Quem sabe em alguns anos eles aprendam sobre o mais simbólico dos nascimentos, e como eu, ficarão frustrados de não ter sido o deles.

Mamãe prepara o salpicão com orgulho. Enfeita potes para presentear as amigas com seu petisco de grão de bico, sua mais nova sensação da culinária. Ela tem uma coleção de fitas douradas, vermelhas, verdes, salpicadas, com pinheiros, sem pinheiros, ela parece sócia de uma papelaria.

Temos renas – aquelas que vivem apenas no Polo Norte, e lá em casa. Temos bonecos de neve, com a indumentária completa para o Natal – toca, cachecol, tudo para combinar com a neve falsa. Velas, toalhas de mesa, toalha de mesa de centro, de mesa de canto – pra que mesmo temos tanta mesa? Para os pratos e copos temáticos do Natal, é claro. Tem até enfeite de taça de Papai Noel e a gente raramente bebe em taça.

Natal é mesmo quando a minha mãe decide, e sei que ela adora enfeitar a casa, desde o tempo em que ninguém lá em casa era mais criança. Agora com a segunda leva de moleques então… Encanta-me a maneira como ela insiste na magia, ainda que tenha tido um ano difícil. Ainda que sinta tanta saudade nesta época.

Por falar em saudade, eis que dentre tantos adereços, quatro enfeites natalinos são os que me pegam suspirando. As quatro meias de Natal que ela pendura na lareira, para que o Papai Noel coloque mimos para os teus quatro pimpolhos. Leonardo, Murilo, Mateus e eu. As dos três meninos são iguais, com tons de verde e vermelho. A minha, a única menina da casa, tem um cintinho preto com dourado, charmosa e perua como a minha mãe gosta de me imaginar sendo (e não o 4º menino que eu realmente sou).

Gosto de saber que saudade nenhuma evita que ela pendure a meia do meu irmão, ainda que presencialmente ele não estará conosco na ceia. Sei que esse amor todo, expresso em tanto carinho enfeitando a nossa casa, é o melhor presente de Natal que nós podemos ter. Eu não abriria mão dele nem por neve de verdade ou fita dourada alguma.

Papai Noel que me desculpe, mas lá em casa, quem comanda o Natal é a Mamãe Noel. Pode tirar o trenó da chuva.


Fim da sessão.

Feliz Natal, gatedo! Beijos da turminha lá de casa:

Antônia no Divã

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Antônia no Divã

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