Efemérides

As grandes lições

Já percebeu como algumas das maiores lições da vida não são lhe entregues de mão-beijada? Existe uma premissa de que o conhecimento está associado com merecimento. “Cerca Trova”“Busca e encontrarás”, Giorgio Vasari já dava a dica sobre um dos maiores mistérios da história da arte. Conhecimento é algo valioso que precisa ser decifrado. Sim, porque coisas importantes não são simplesmente “largadas” por aí. Preciosidades são sempre protegidas por códigos complexos, segredos profundos, ou na mais fácil das hipóteses, trancafiados a sete chaves. Ainda assim, conhecimento, mesmo que protegido, costuma ser acessível, lhes garanto. Ele é deveras democrático, por isso dificilmente será colocado sob uma torre de marfim.

As grandes lições da vida normalmente são encontradas em lugares comuns do nosso cotidiano. E cabe a nós – única e exclusivamente nós – decifrar os códigos únicos para destravar novas etapas de conhecimento. Tipo, passar de fase no candy-crush, só que melhor.

Grandes lições podem vir nas mais variadas formas, como através de livros, cursos, jornadas. Eles podem ter caráter bem pessoal, ou atingir níveis mais superficiais de aptidão. Às vezes essas lições nos são passadas por outros mestres, como professores, pais, gurus, entidades, ou mesmo por mestres que nem sabiam que foram nossos mestres – um irmão, uma amiga, um desconhecido especial que cruzou a nossa cruzada. Tem gente que encontra suas respostas num encontro com a morte, outros que despertam para vida com o nascer de uma nova. Como afirmei antes, as lições são bem democráticas, além de polimorfas e sem aviso prévio.

Algumas das minhas respostas, por exemplo, eu encontrei na terapia depois de anos de reflexão. Outras a vida me jogou na cara em segundos. Dos aprendizados que coleciono, o meu mais valioso (aquele que eu desencavei de uma arca profunda do inconsciente),   é o de estar sempre alerta as grandes lições. Justamente por sua capacidade camaleônica de misturar-se com o conhecimento banal e passageiro. E principalmente por estar disponível em lugares menos óbvios. É como o santo graal no filme do Indiana Jones. Conhecimento nunca vai ser um cálice dourado, modelinho ostentação. Vai ser de madeira, palpável, disponível, compartilhável. Isso, é claro, se houver dedicação, e se estivermos ALERTAS ao conhecimento oferecido.

Dia destes, peguei-me assistindo pela milésima vez o filme “A Volta do Todo Poderoso”, em que o personagem principal, Evan Baxter, é convencido por Deus (interpretado por ninguém menos que Morgan Freeman), a construir uma arca. O plot é engraçadinho, mas me tem de verdade por três motivos específicos: 1) como o personagem principal eu também cultuo uma dançinha da vitória sempre que estou feliz, 2) sempre imaginei Deus negro, indiferente do que diziam as freiras do meu colégio 3) uma lição profunda e sincera sobre aprendizado e grandes lições.

No filme Deus-Morgan-Freeman explica para esposa do Noé Pós-moderno, que muitas vezes rezamos por algum tipo de conhecimento ou respostas às grandes lições da vida.  “Deus me faça mais paciente.” –  “Senhor engrandeça a minha coragem”. – “Pai (Alá – Oxum- quem-você-acredita), faça de mim uma pessoa melhor”. O que acontece, entretanto, não é a entrega de um pacotinho com esse novo conhecimento pronto para ser absorvido como a versão atualizada do iOS no seu iPhone. Deus, a sua entidade luz preferida, ou mesmo a vida, lhe apresentam oportunidades para ser mais paciente. São-lhe oferecidas oportunidades para edificar a sua coragem. O que você ganha é a oportunidade de aprender a ser uma pessoa melhor. A lógica me fez total sentido.

Desde então, me pego pensando no Deus-Morgan-Freeman, sempre que me vejo estagnada frente a uma tarefa que exige a pior das minhas habilidades (como paciência, por exemplo). E na medida do possível, eu encaro aquela nova cruzada alerta da oportunidade que eu tenho de aprender novos códigos, condutas e comportamentos para desvendar níveis superiores do meu conhecimento. Ou se tudo der errado – no mínimo eu vou aprender alguma coisa pra encontrar a minha paz de espírito.

Hoje conversando com uma amiga (alguém que eu considero de uma inteligência emocional acima da média), ela me contava como odiava agir de certa forma com as pessoas para que elas entendessem o certo do errado. E de como ela ficava mal frente a este enfrentamento. E mais uma vez me vieram à cabeça as palavras de Deus-Morgan-Freeman: “estás ganhando uma oportunidade de aprender mais essa lição”.

Sabe, às vezes nós recebemos lições duras da vida, e nosso coração se enche de pesar, e ficamos cegos de tristeza a ponto de não conseguir desvendar novos códigos de aprendizado. Outras vezes ficamos tão enfurecidos frente a um impasse, que somos incapazes de desatar os nós, ou procurar as malditas 7 chaves que abram a urna da iluminação. Ainda há quem perca a lição por achar que sabe tudo, ou por acreditar que tamanha inspiração jamais viria de uma fonte tão ordinária, uma determinada pessoa, um encontro, uma perda. Não se assuste. Aqui vai ter sempre o dedo de outro grande professor atento a tudo: o tempo, como senhor de todas as lições.

Hoje eu decidi compartilhar tudo que já aprendi sobre as grandes lições da vida: estar sempre alerta às oportunidades. E caso tenha perdido a lição, confie sempre no tempo, como grande professor.

Fim da sessão.

ps: Há pouco menos de 2 anos eu procuro todos os dias por oportunidades para aprender com aquela que considero a maior (e mais dolorida) lição da minha vida. E há pouco menos de 2 anos, a única certeza que eu tenho é que ela tem a ver com paciência e fé. Mas eu sigo alerta.

(não achei legendado, então vai o dublado pra quem não manja do inglês)

Antônia no Divã

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Antônia no Divã

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