Crônicas

Mulher pra cacete, opa, mulher pra vagina! 

em
7 de março de 2018

Eu queria ter escrito uma sessão do dia das mulheres, mas eu me atrasei nas minhas tarefas. Sim, porque meus sogros estão vindo visitar pela primeira vez a nossa casa, e eu queria que tudo estivesse impecável. Meu namorado disse “ai, não se estressa com isso”, mas eu só pensava nos cantos sujos que precisavam de uma visita.

Eu podia ter limpado a casa ontem, mas eu botei como meta correr 10km por dia. Pra ficar linda? Sim, ainda mais linda, porque linda eu já sou, toda mulher é, mas eu corro pra limpar a sujeira da mente. A gordura do meu fígado. Baixar meus triglicerídeos. Então eu fui correr, e voltei exausta, então me atrasei na faxina. Hoje a faxina rolou com minhas perdas doídas da corrida, porque afinal, eu tive que dar conta de 10km e da faxina.

Eu queria ter escrito uma sessão inspiradora sobre como mulher é foda, mas eu tive que verificar os protocolos atrasados da minha empresa, porque o homem da prefeitura estava muito atarefado pra concluir minha vistoria. Oi, homem, você tá atarefado? Você não tem ideia da minha pauta, que precisa deste protocolo que tá contigo. Não me prolonguei discutindo com o homem porque eu tinha que atender meu cliente, que pediu revisão de um site, e mais um artigo. Então entre a faxina, a corrida, eu ainda tinha que tirar um artigo da cartola.

Isso claro, antes do almoço. E sem demorar muito, porque tem um frango descongelando na pia, e ele não vai se transformar em manjar dos deuses sozinho. Entre a cebola cortada, e a lista de compras que tive que fazer, eu agendei a cirurgia da gata da minha mãe. Pedi (pela terceira vez) para o dono da casa que eu alugo vir consertar a pia que tá vazando, mas ele também estava muito atarefado. Enquanto isso eu dou um jeito de estocar a água que vaza da pia para a roupa que está me esperando no tanque.

Tá, mas e seu namorado? Ah, ele fez as compras da casa, lavou a última leva de roupa. Ele não tem desculpa pra nada, até porque eu nem deixo. Expliquei desde já que as tarefas tinham que ser iguais. Mas nunca são. Mulher também não deixa ser. Somos determinadas demais, destemidas demais, perfeccionistas. Malucas. O engraçado é que diferentemente de homem, a gente nunca tá atarefada demais pra assumir uma nova tarefa. Isso que nem tenho filhos, esses, eu sei através dos meus irmãos, que são um capítulo a parte. Vejo minha mãe fazer das tripas coração pra deixar a vida dele em ordem, e o pai deles pagar de herói porque leva-os no cinema no final de semana que é de sua responsabilidade. Eu canso desta discrepância. Mas se fosse eu, faria igual, viu mãe?

Eu queria escrever um texto pra dizer que somos poderosas, e magníficas, mas eu estou ajudando a agitar uma doação massiva de sangue lá no Rio de Janeiro, me comprometi com um brechó beneficente em Porto Alegre. Sim, porque eu não posso ser só mulher, tenho que mudar o mundo. Eu tô estudando também, o que me tira tempo, mas também tô sempre disponível para ajudar uma amiga a mandar mensagem pro boy dela. Marco uma live com um grupo de influenciadores do bem que trata de temas como expansão e movimento. E eu, como toda mulher, manjo muito dos dois: expansão e movimento. Claro que se eu expandir mais um pouco eu explodo, e se me movimentar mais, não vou ter como correr os 10km de hoje.

Caralho, tô atrasada com o almoço. Não deu tempo de tomar banho pra receber meus sogros, então eu disfarço a cara de cansada com maquiagem, e toco perfume por toda superfície que alcanço. E porque eu não tive tempo para escrever um texto digno das mulheres, vou ter que reciclar um do ano passado, que me representa ainda hoje. Vocês merecem mais, lamento, eu só tô tentando dar conta.

Queria ter tido tempo pra ser escritora, influenciadora, pensadora. Desculpe, meninas, como falei, vocês mereciam muito mais. Hoje vou ter que me resumir (oi?) a ser “só” mulher.

E por Jeová, isso já é coisa pra cacete. Opa! Isso já é coisa pra vagina!

Fim da sessão.


PS: Sei que nosso dia é 08/03 (é todo dia!), escrevi hoje porque não sei se vou ter tempo amanhã, sabe, coisa de mulher.

Sessão retro: Eu queria ser só mulher

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1 Comentário
  1. Responder

    Izabel Fleck

    8 de março de 2018

    Aline Querida não precisava ter corrido tanto… nós só queríamos chegar e ver teu sorriso, tua alegria… se refletindo no Léo!!!
    Isso não tem preço…bjkas

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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