Efemérides

A primeira década publicitária

em
22 de agosto de 2018

É difícil chegar a uma década de algo e não olhar pra trás com no mínimo, alguma ressalva. Eu nunca havia completado 10 anos de nada referente a minha vida adulta, até hoje. Eu me formei há 10 anos. Caralho! 10 anos. Sim, com direito a toga, medo de tropeçar na hora de pegar o diploma, e um porre homérico.

Faz 10 anos que eu fui oradora. Ora, pudera. Se a minha turma formou comunicadores, óbvio que a matraca havia de puxar o coro. Eu também fui da comissão de formatura – responsável pelas festas. De novo, nenhuma surpresa, eu sempre me assumi boêmia. Acho que culpo a hereditariedade do lado do meu pai. Faz 10 anos que a dona da casa de festas ameaçou chamar a polícia e recolher todos os meus convidados/pseudo-banda direto para a delegacia.

Como eu era jovem.

Fato é que quando a gente faz 10 anos de algo, fica pensando nos planos que fez. Onde vislumbrou estar. Eu jamais imaginei quantos sapos eu engoliria em 10 anos. Foi a dieta mais contínua que mantive. Queria ter comido mais legumes. Mas eu comi mesmo foi é sapo. Sou da geração de publicitários cujo valor tinha se provar suando camisetinha com salários humilhantes, piada de cliente e assédio moral/sexual do chefe. Publicidade já era um cadáver podre, depois do Washington Olivetto e muito antes do meu diploma. Mas eu dancei a música que tive que dançar. E sobrevivi bem na maioria das vezes. Não em todas. Mas na maioria.

Eu me perguntei durante 10 anos se justificava a mensalidade que meu pai investiu em mim durante 4 anos. Mas o fato é que eu nunca me imaginei em outro ramo que não o da comunicação social. A escrita veio como presente, a criatividade era quase uma sina. Charles Watson já havia ditado o paradoxo que me foderia, enquanto o planejamento tentava evitar surpresas, a criatividade tentaria provocá-las. Eu fui as duas coisas convivendo: planejadora e criativa. Evitando e provocando surpresas. Haja estômago.

Em 10 anos eu jurei que estaria estabelecida. E estou mais em transição do que nunca. Tenho no mínimo dois continentes pra botar os pés nos próximos meses. Meus pagamentos são inconstantes, e meus clientes dos mais diversos. Eu aprendi a vender tudo e todo mundo, mas nunca em 10 anos aprendi a me vender. Eu confesso que ainda tô aprendendo, deve ser coisa de publicitária, sempre se reinventando.

Desde que me formei já reinventaram a internet umas 200 vezes. Influenciadores mudaram de nome. Reputação virou moeda de troca, e até carreira. Visualizações passaram a ser mais importante que conteúdo. Mas eu nunca perdi o foco no relacionamento. Hoje chamam de engajamento. Mas pra mim seguidores ainda são pessoas. Campanhas ainda merecem histórias, e marcas seguem tendo espírito. Não importa quantas cifras faltem ou sobrem. Eu vou sempre almejar uma boa história pra contar.

Uma década se passou para eu dar a cara a tapa e juntar um CNPJ ao meu CPF. E quem já fez sabe, há de se ter coragem para empreender nesse país. Graças a Deus, meus maiores patrocinadores estão comigo há 10 anos. Papai, mamãe, meus irmãos e amigos, investiram tanto apoio em mim, que eu tinha que fazer sucesso – qualquer fosse esse sucesso. Até porque sucesso é relativo, sabe? Eu já lancei produto com o mesmo ímpeto que escrevi convite de aniversário dos meus irmãos gêmeos.

Essa é a melhor parte de comemorar um amor de 10 anos. Não importa quantos sapos eu tive que engolir até aqui, ou quanto o mercado mudou. Eu continuo uma apaixonada por comunicação. Uma garota deslumbrada, eu sei. A vida segue tão linda quanto há 10 anos atrás.

Então deixa o galo cantar. Hoje faz 10 anos que eu amo o que eu faço. Indiferente da importância do meu contracheque. Eu podia ter sido rica. Mas eu escolhi sem publicitária.
Não dá pra ter tudo.

(Imagine agora este mesmo texto com uma trilha bonita, e umas imagens de gente pseudo-realizada, um cachorro cruzando a sala – sempre tem um Golden Retriever cruzando a sala. Entra a chamada de um banco com propaganda de cheque-especial com juros altíssimo).

Fim dos 30″ do comercial de TV ou do impulsionamento pago de rede social.
Fim da sessão.

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1 Comentário
  1. Responder

    Dulce

    24 de agosto de 2018

    Parabéns pelos 10 anos! Que venham muitos outros com a mesma garra e o mesmo deslumbramento! Otimismo que faz gerar Vida! Beijos!

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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