Vá tomar banho
Não sei o que acontece. Qual o poder mágico das gotículas de água nos seus ombros. Sei que banho foi resignificado desde o dia que você entrou no meu box. Banho sabe? Aquela coisa cotidiana, básica e quase que automática que eu faço a minha vida inteira. A ideia era entrar e sair, com o único objetivo de tornar-se limpo. Higienizado. Até relaxante. Mas você e o chuveiro tem toda outra proposta.
Partimos do pressuposto que a luz do banheiro nunca é a mais enaltecedora. Logo, meu coração saltou pela boca quando você – porque qualquer motivo que foge a minha compreensão – decidiu entrar e me ver pelada sob a luz dura do banheiro. Tentei furtivamente me esconder atrás da toalha que trazia nas mãos, mas você e o vapor têm toda uma outra proposta. Tirou a toalha das minhas mãos e calou a minha boca com um beijo, sabendo da minha intenção em relutar. Mas sem as palavras (e sem a toalha) estava desarmada. E assim dispo-me da ideia de que você repararia nas curvas a mais que tenho no corpo, e visto o arrepio que você me causa.
Num piscar de olhos as suas roupas estão no chão, e você me encaminha para baixo d’água, segurando a minha cintura grudada na tua. Não sei o que acontece ali. Se é o vapor subindo (entre outras coisas), a água quente (entre outras coisas), as minhas bochechas (todas elas) vermelhas. A cena é digna de tirar o fôlego. Agradeço em silêncio por você não deixar toalha nenhuma no caminho daquele ritual.
O primeiro jato de água encontra o meu corpo colado no teu, sem fazer a menor diferença do que pertence a quem. Juro que nesta hora eu também não entendo as fronteiras. Entrego-te tudo que é meu, e tomo pra mim tudo que é teu. Eu viajo naquela poça d’água que forma na sua clavícula enquanto você me abraça. Ou mesmo aquela piscina entre meus seios quando você afasta um pouco o peito do meu para encarar meus olhos. É como se a água destacasse novas curvas que surgem perfeitas apenas da interação do meu corpo com o teu. Pequenos rios e cascatas de prazer criadas da sintonia das tuas linhas se enrolando com as minhas. Como resistir?
Aí você me vira de costas, coloca o shampoo no meu cabelo, e começa a massagea-los com determinação de intervenção militar, lembrando-me que além de sexy, aquele é também um instante de cuidado e carinho. Puxa-me delicadamente pra baixo da água, tirando a espuma enquanto protege meus olhos e beija as minhas sobrancelhas. Pega o sabonete e deixa as mãos deslizarem pelo meu corpo sem qualquer pressa. Gasta um longo tempo nas esquinas entre as minhas coxas e a bunda, esfrega as minhas costas enquanto morde meu pescoço e se perde na sinuosidade do meu peito. Pressiona-me contra a parede de azulejos gelada, com ar de garoto levado nos olhos, apenas para me ver dar um gritinho de frio e logo me aquecer com um abraço. Beija-me demoradamente deixando a água quente escorrer entre lábios, línguas, dentes e todo desejo criado ali.
A mesma água leva embora todo o resto que não cabe naquele box. Pelo ralo escorreram a vergonha, qualquer distância e aquela DR idiota que tivemos horas antes. Na água quente dissipou-se toda a dúvida, junto com o vapor. Naquele espaço confinado não cabem as incertezas sobre o futuro, apenas o momento presente. Um universo inteiro dentro de 1x1m. Sabe… talvez as pessoas devessem tomar mais banhos juntos como você e eu. A conta d´água seria maior, mas a conta das implicâncias seria reduzida. Talvez a chave da luz caísse mais vezes, mas o desejo, esse não cairia nunca. Não haveria mais cheiro de desconfiança, apenas de sabonete misturado com feromônio. Tudo por causa daquele banho.
Fato é que esse banho a dois é um processo de limpeza muito mais profundo. Pessoas que tomam banho juntas são mais felizes. Pessoas mais felizes não enchem o saco. Não brigam no trânsito. Não tem DR. Não fazem questão de ter razão. Não praticam a guerra. Talvez todas as pessoas devessem trocar seus divãs pelo chuveiro. Lá tem menos neurose, mais suspiros.
Então pra você que está aí lendo, aqui vai o meu conselho. Quando tudo tiver errado, ou mesmo, quando tudo tiver certo, faça um favor a si mesmo: pegue na mão daquele alguém, e vá tomar banho.
Isso mesmo. Vá tomar banho.
Fim da sessão.
Gracilene
Mas que texto é esse Antônia? maravilhosoooo!!! “Passear” pelo teu divã vale sempre muito a pena!
Antônia no Divã
Gracilene, queria dizer que o texto é tão bom quanto foi o momento. Mas não é. 🙂 Volte sempre e “passeie” a vontade! Tá em casa!
Gracilene
Antônia, é engraçado como o simples fato de ler suas postagens nos faz sentir tão bem, tão em casa..acho que você tem o dom de propiciar leveza à alma humana…obrigada pelo grande presente que é o “Antônia no Divã”!
Antônia no Divã
Gracilene, que coisa mais querida! Fico eu leve lendo esses feedbacks. Volta sempre, tá? Beijos
Gisélli
Hummm….isso foi, no mínimo, excitante!
Antônia no Divã
trabalhamos com excitante também! hahahah
Ana Teté
Banho a dois, com ou sem “final feliz” ainda é a melhor opção do dia. O toque, o carinho, o cuidado e a atenção, nem precisam de palavras. Já tomei um banho a dois, com um “silêncio ensurdecedor”, apenas o cuidado, mas que resolveu muito mais problemas do que muitas DR’s. =)
Antônia no Divã
Ai Ana! Vc me inspira! <3
Annelise Alves
Muito bom. Final perfeito. Será que as duas partes têm essa sensibilidade toda ao pensar em um momento como o banho a dois?
Antônia no Divã
Acredito que essa sensibilidade é transmitida de toda forma. Palavras, carinhos, apertos, olhares. Suspiros, muitos suspiros.
Evandro
Texto “emocionantemente” gostoso. E nada melhor do que curtir um grande momento (com alguém especial, é claro) como esse. Carinho e sabonete “down”, é tudo.
Antônia no Divã
<3 coisa boa esse comentário vindo de um representante do público masculino. afinal, "os brutos" também amam... tomar banho! hahahah, beijos, Evandro.
Anônimo
Você, realmente. Antônia, é, simpkrsmente demais!!!!
Antônia no Divã
ui! adoro, “Someone”.