Eu fiquei divida o mês inteiro sobre criar uma pauta política aqui neste divã. E talvez por isso eu me abstive de escrever sobre qualquer outra coisa nos últimos dias. Porque é difícil manter neutralidade, ou fingir que tem assunto mais importante. Também porque, como eu já pontuei em alguns momentos, esse sempre foi um espaço de diálogo. E confesso que temi muito comprometer, para qualquer que fosse o lado, a liberdade de expressão de vocês.
Ponto importante sobre essa sessão é dizer primeiro e antes de tudo que eu desejo que cada um vote em quem quiser, porque afinal, essa é a beleza da democracia. Então antes de você torcer o nariz ao perceber a temática, fique tranquilo. Essa não é uma tentativa de te levar nem para a direita ou para a esquerda. Para isso eu uso a liberdade das minhas redes pessoais, e contra-argumenta lá quem quer. Aqui eu quero mesmo é que você olhe pra trás, e depois olhe pra frente.
Nunca se discutiu tanto política. Em nenhum outro momento se pesquisou tanto. Eu mesma me envolvi como nunca. Isso considerando que em situações normais, eu tenha certo envolvimento com as pautas sobre os direitos das mulheres e participo vez que outra de votações online que o senado promove. Mas o que aconteceu neste outubro de 2018 foi sem precedentes. Eu jamais havia lido por completo os planos de governo, me preocupado com propostas, e discutido exaustivamente o que estava em jogo como nessas eleições. E isso é muito bom.
Eu aprendi a argumentar, e principalmente, a olhar além dos meus interesses. Fui atrás de dados e pesquisei profundamente sobre fakenews, entrando em site do Tribunal de Justiça (coisa que eu nunca tinha feito), procurando informações sobre economia, e ouvindo argumentos de gente muito, MUITO mais inteligentes que eu, pra daí então formar minhas primeiras ideias. Essa construção que baseou o meu direito cívico foi importante para que a minha educação pessoal ficasse mais rica, ampla e justa. Se pensarmos que isso aconteceu numa escala nacional, arrisco a concluir que vamos sair dessa eleição como um país menos bitolado, e mais envolvido com aquilo que de fato merece a nossa atenção.
O lado ruim destas eleições, é que muito telhado de vidro apareceu. Muito moralismo foi exposto, e uma série de preconceitos e sentimentos ruins, antes confinados no obscuro dos nossos armários – aquele que todos nós temos – também conheceu a luz do dia. Prejudiquei a paz do meu relacionamento, briguei com a mãe, quebrei os pratos com amigas, e me vi obrigada a silenciar alguns contatos, e até bloquear alguns perfis para garantir uma trégua até Novembro. É difícil ser maduro e ponderado com tudo que está sendo discutido, e eu obviamente, não sou melhor do que ninguém. Então essa eleição promoveu perdas pra todo mundo, antes mesmo de haver um vencedor.
Fato é que aquilo que antes a gente não discutia, ficou mais alto que o silêncio. As nossas verdades cada vez mais explícitas, e temo a dizer que a gente conheceu melhor não apenas os candidatos, mas pessoas que acreditava conhecer como a palma da própria mão. Teve muita surpresa negativa. E na contrapartida, muito conforto e ombro amigo. Ideologias fazem isso, elas dividem, colocam as diferenças em confronto. Também unem e fortalecem alianças. O que virou unanimidade é que não gozamos mais da passividade como opção, não importa de que lado do muro você está, ou até mesmo se quiser ficar em cima dele.
A gente se viu na obrigação de tomar partido. Não daqueles com siglas, ou orientação partidária. Mas se obrigou a tomar partido pelo que e por quem acredita. Encarou os preconceitos de todo mundo, encarou até os próprios, e foi além. Viu as tolerâncias e intolerâncias envolvidas. Cruas e sem vergonha. E isso muda a gente. Ninguém ficou impune.
O bom disso tudo, é que não existe mais show de espelhos e fumaças. Tudo e todo mundo mostrou do que é feito. Se houveram amizades rompidas, laços cortados, olhares tortos, isso faz parte do ato de se posicionar num momento-brasilis de extremos. Do lado de quem você fica? Quem e o que você defende? Indiferente da posição, o que não dá pra negar é que o país saiu do armário. Com o que há de mais lindo e feio, pra quem quiser ver.
E essa iluminação é sempre dolorida, sabe. Mas ela é muito melhor do que a hipocrisia promovida pela escuridão. Tranquilidade vai ter quem olhar pra trás, e indiferente do resultado, conseguir ter orgulho do que defendeu e daquilo que mostrou para o mundo.
Fim da sessão.
ps: Assim como não pontuei minhas ideologias e nem me posicionei de forma partidária aqui, peço que as pessoas evitem as discussões políticas nos comentários. Isso não seria justo comigo, haja vista que estou respeitando todas as opiniões, sem valor de juízo a lado A ou B.
“Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida”
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