Efemérides

Irmão é…

em
14 de março de 2017

Ouvi dizer em algum lugar que a nossa construção é formada pela média das cinco pessoas com quem nos relacionamos. Lembro que o estudo provava por A+B que a nossa personalidade era a massa liquidificada dos nossos pais, irmãos, amigos, amores, na mesma proporção. Apesar de ser um estudo bem fundamentado, eu tive certeza que eu não era parte da amostra. Isso porque eu sei que metade de mim sempre foi, e sempre vai ser pilha do meu irmão. O restante dos 50% até pode espremer outras influências. Mas uma metade inteira é consolidada pelo elo que fiz com o meu primeiro e melhor amigo da vida toda.

Irmão é aquele cara que acredita que você pode consertar o redemoinho na franja dele com uma tesoura, e aguenta os próximos meses com um corte de cabelo ridículo por ter acreditado em você. É dividir cama de solteiro, e brigar pelo cobertor. É o cara que finge gostar de palhaços, quando você decidiu aparecer na festa dele fantasia como uma, esquecendo que ninguém mais gosta de palhaços aos 10 anos. E é também o mesmo pré-adolescente que te convida para ir ao banheiro de madrugada, quando você finge – junto com ele – que não tem medo do corredor escuro. É por quem você briga com garotos na praia, enchendo a boca deles de areia quando ousaram falar mal do seu irmãozinho.

Irmão é o primeira pessoa que vai fazer cara feia para os babacas que vão entrar na sua vida, fantasiados de príncipes encantados. Que vai acobertar tuas saídas furtivas para um sorvete com segundas intenções, e ouvir com atenção quando você contar que o seu primeiro beijo foi um nojo (e foi mesmo). Irmão é cara que vai brigar contigo pela internet discada, quando você insiste em namorar horas pelo telefone, com alguém com quem você acabou de passar o recreio junto. E vai tolerar teus ataques ciúmes e tua constante inquisição de irmã mais velha perguntando com quem você anda, e o que você faz quando não está por perto.

Irmão vai sair de casa com você, quando “casa” já não for mais sinônimo de tranquilidade. Vai morar num quarto de hotel por um mês enquanto as coisas se ajeitam , e te mostrar felicidade nas omeletes do café da manhã, quando nada mais parecer ter sentido. É quem vai segurar tuas lágrimas quando você estiver atrapalhada ou com medo. Dar-te força quando o futuro for incerto. Irmão é aquela pessoa que nunca te deixa sentir sozinha, mesmo quando o caminho é sinuoso, e você já não enxerga um palmo de alegria à frente do nariz. É o cara cujo amor você marca na pele, junto a um trevo de quatro folhas.

Irmão é a certeza da proximidade quando se está distante. É sintonia na descoberta de uma atração pop, e o back vocal certeiro naquele rock antigo que foi composto antes de vocês dois nascerem. É cara que te ensina a gostar de livros estranhos, e a quem você – depois de muita insistência – convence a dar aos musicais uma chance. Irmão é Londres, é Barcelona, é Madrid. É brigar na véspera de Natal, e fazer as pazes antes do ano novo. É morar junto, é brigar pela pia suja. Aliás, irmão é o único ser humano que vai tolerar encontrar seu vômito na pia do banheiro, sem lhe dar uma bela e merecida camaçada de pau – afinal o vaso com a descarga estavam tão pertinho. “Poxa irmã – você é a mais velha, cadê teu juízo?!”.

Irmão é nunca sentir-se só. Ou louca. É uma insanidade combinada, familiar. Uma tolerância garantida, não pelos traços genéticos, mas pelo amor forjado a ferro e fogo. Suor, sangue e lágrimas. É a única pessoa no mundo que não se esquece do teu aniversário. Ainda que nunca se lembre de te dar presente. Irmão é pra sempre… não é?

É. Irmão é pra sempre. E talvez por isso não ter mais o meu irmão ao meu lado seja a maior prova de que tudo o que passou valeu a pena. Porque cada perrengue dividido foi único e precioso, e me ajudou a juntar a coragem que eu hoje tenho de seguir adiante, ainda que os problemas não diminuam. Cada risada e musica cantada é a prova de que a vida é linda, e merece ser celebrada. E cada sonho construído não é apenas mais um compromisso com o futuro em construção, mas um ato de honra ao passado que edificamos juntos. Porque no fim de tudo, como eu dizia para o meu irmão, a gente só quer poder olhar a vida, e dizer “foi ducaralho, senhoras e senhores!”. Irmão é saudade para todo e sempre, com a certeza de que foi ducaralho, senhoras e senhores.

E se o meu irmão é o que acredito ser a metade de mim, e vice versa, a má notícia é que com sua partida, uma metade de mim também se foi. Mas a boa notícia (e essa que eu guardo com alegria no coração) é que a metade dele, em mim ficou.

Irmão é pra sempre, Léo. E neste 15 de março, no teu aniversário, eu vou seguir celebrando a melhor metade de mim.


Fim da sessão.

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4 Comments
  1. Responder

    claudia castiglione

    18 de março de 2017

    VOCÊ É MARAVILHOSA!!! Seja onde ele estiver certamente se emociona com a sua celebração! Que você continue fazendo dessa sua metade a diferença nesse mundo.bjs

  2. Responder

    Valentina

    17 de março de 2017

    Lindo, lindo, lindo, amei a “conclusão”.
    Ducaralho mesmo, senhoras e senhore!

  3. Responder

    Dulce

    16 de março de 2017

    Parabéns Léo! Aonde você estiver receba esse Amor maravilhoso que Antônia compartilha conosco que, de quebra, amamos você.
    Ter um Irmão é a melhor coisa que pode acontecer na vida de alguém. O amor entre vocês vai ficar prá sempre, prá Eternidade.
    Beijos e vamos que vamos!!!!

  4. Responder

    Mariene

    15 de março de 2017

    Te amo!

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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