A Influenza
Certa vez, não há muito tempo atrás, eu peguei uma virose chamada “Influenza”. Dentre as inúmeras formas que a doença me atacava, uma tosse constante me fazia vomitar qualquer comida que colocava no estômago. Eu perdi 7kg em 3 semanas, tinha dificuldade de ficar em pé ou ter motivação pra qualquer coisa. Quando fui ao médico, pior que meu diagnóstico, era o tratamento. Não havia muito o que fazer, disse ele, eu precisava fortalecer o meu sistema imunológico e deixar a Influenza passar.
A coisa toda ficou esquecida até que nas últimas semanas de um silêncio refletivo, eu me vi novamente lidando com os sintomas de uma virose parecida, a “Influência”. Doença que passou a me contaminar dia após dia pelo meu celular. Uma chuva de recebidos aqui, e dicas de beleza ali, tudo passou a enfraquecer o centro do meu sistema imunológico, o meu psicológico. Entretanto desta vez eu não me vi vomitando comida, como anteriormente, mas vomitando amargura, inveja. Eu não fiquei fraca e sem motivação pelos 7kg que perdi, mas pelos tantos quilos que me ensinam a perder em um sistema de opressão bem elaborado e essa mania terrível que a gente tem de se comparar com os outros.
Influência nos dias de hoje, parece uma moeda de troca mais cara que a monetária. É um mercado onde muita gente recebe atenção, mas nem sempre fica claro o que entrega de volta. O resultado direto disso é que nos tornamos uma manada de invejosos a respeito de coisas que nunca antes almejamos. Regulamos nossa métrica de ambição pelo “sucesso” alheio, e isso é tão frustrante a curto prazo, quanto perigoso a longo. Quem nunca se pegou perdendo tempo precioso analisando as 70 selfies diárias que pessoas e influenciadores (como a nova casta de pessoas) compartilham na premissa do #lookdodia, da #inspiração, e do #selflove? “Já que vocês pediram…/ Como me perguntaram aqui”. Eu não abomino nenhum movimento midiático, do contrário, eu os acompanho com curiosidade. Eu só sinto muita falta de verdade no processo. Eu não me importo que pessoas falem de aceitação com quilos de maquiagem na cara, cílios postiços e botox em cada canto do rosto. Eu só estou ficando exausta de escutar. Cada um decide sua linha de influência, com ou sem coerência de discurso. No fim, a auto-crítica é valida para todo mundo. Ninguém fica imune.
O que impede a autocrítica muitas vezes, eu percebo, é que a autoindulgência é sedutora. Ela nos convence de que somos especiais no ambiente global, baseados em curtidas e uma legião de “seguimores”. A pergunta que sempre me ocorre é, e se o Instagram acabasse hoje, qual seria o legado que fica? Na minha verdade, entendo que ser especial e ter relevância tem muito mais a ver com a entrega significativa que fazemos de forma genuína ao mundo, do que aquilo que recebemos dele em pacotes de presente.
Mas essa sessão é muito mais um auto-resgate, do que uma crítica social. Ela é um momento de olhar tudo que está a disposição, e mais uma vez, fazer uma retomada de rota da minha história e influência (como quem recebe e como quem pratica). Todos nós somos influenciadores nos dias de hoje, seja nas nossas relações reais ou virtuais. Todos nós temos canais amplamente capazes de propagar a nossa mensagem. A diferença reina justamente sobre a responsabilidade daquilo que estamos transmitindo. É pensando do bem estar do outro, ou exclusivamente no nosso próprio? E analisando aquilo que consumimos todos os dias, perdendo tempo de aprendizado ou de convívio social (real-oficial). Nós estamos entregando a nossa atenção pra quem se preocupa com os nossos interesses ou exclusivamente com os seus? Pergunto, porque eu adoro um diálogo aberto e uma conexão sincera. Mas eu estou um pouco farta de comprometer minha saude mental e distorcer minhas expectativas pessoais, para servir de almofada do ego alheio.
Eu não sou hipócrita. Eu adoro comer pizza “de graça” na conta das minhas amigas influencers. E sabendo como a autoindulgência não perdoa ninguém, eu também precisei me calar por um tempo. Avaliar o conteúdo entregue. Calibrar as expectativas que eu crio dentro dos meus privilégios, e eu confesso que nessa análise eu também fiquei com vergonha. A ponto do assunto surgir em um boteco em São Paulo e eu dar de ombros – “Alguma de vocês é blogueira?”, e eu engolir minha língua. Eu não consigo não botar minhas entregas na balança. E me envergonhar, por exemplo, de tratar de forma leviana os destinos das minhas viagens, e não fazer o que eu realmente acredito que é encurtar fronteiras através de histórias e pessoas (e não de vinhos e roteiros caros/parcelados). Hoje eu também não consigo não me arrepender de querer medir o valor do que eu faço pelo alcance, e não pela mensagem. Ou seguir eternamente me medindo com a régua dos outros. Nos últimos dias eu mergulhei em cada sessão preferida de vocês por aqui e me dei conta que é na fragilidade que a gente se encontra. Nos medos que dividimos, nas tristezas que compartilhamos. E claro, nas nossas pequenas e grandes vitórias, fruto da alegria batalhada de todo dia.
Talvez seja essa a mágica que me seduza no compartilhamento de vida. Aquele que cria conexões reais e não se compara com nenhum outro, porque afinal, não precisa. E tomando consciência disso, eu escolhi silenciar o barulho-volume e metafórico do meu celular. Todo ele. Eu direcionei minha atenção para quem me inspira através da transformação do mundo com ações relevantes, e tive uma conversa sincera comigo mesma para resgatar a minha origem, me perdoar e acolher, com ansiedade oscilando, todas as qualidades e defeitos, num pacotinho que é só meu. Blindar minha sanidade. Proteger meu bem estar.
E pensando assim, eu ei de seguir novamente o conselho do médico que o médico me deu. Vou fortalecer minha imunidade, e esperar a tal da Influenza passar.
Fim da sessão
Sessão extra-importante
Talvez não houvesse momento mais adequado para agradecer. Influência pode ser uma coisa muito boa, e muitos de vocês aqui são a prova disso. Queria agradecer todo mundo que de alguma forma ajudou a nossa campanha de doação de sangue deste ano. A meta era 30 doadores, e vocês (pra variar) arrasaram com uma entrega de 53 doações que terão impacto na vida de mais de 200 pessoas. Em 4 anos de campanha foram 250 doações e quase 1000 pessoas impactadas, e eu não poderia ser mais grata. A campanha encerra neste ano no formato que sempre foi para se transformar em algo diferente, como tudo na vida. Até lá, não deixem de compartilhar aquilo que vocês tem de mais precioso: o amor ao próximo, sem clichê e com atitude. Obrigada por serem pessoas fantásticas ao meu lado, eu aprendi muito com vocês. E claro, meu agradecimento especial aos doadores deste ano:
1 – Jamile Hallam
2- Marcelo Schilling
3 – Ana Paula Paes
4 – Aline Mazzocchi
5 – Lindonira Santos
25 – Marion F. + 19 amigas
26 – Thiago Veit
27 – Maria Lua Streit
28 – Fabinho Dornel
29 – Amanda Schenkel
30 – Iasmin Abud
31 – Grazi Maidana
32 – Isa Mahle
33 – Tatiani Teixeira
34 – Juliana Simionovski
35 – Mi Scheffel
36 – Ezequiel Vargas
37 – Ley Naj
38 – Geraldo Oliveira
39 – Michele Damacena
40 – Carlos Eduardo Supont
41- Cibele Haas
42 – Silvana G. Silva
43 – Amanda Carneiro
44 – Ana Paula Colling
45 – Ronaldo Delabona
46- Flavia Maria
47- Karina Vogel
48- Eduarda Ruivo
49- Silvio Maidana
50- Julia Bitelo
51- Alceu Flores
52 – Natália Lima
53- Marcus Vinicius
Meu presente realmente é a minha vida.
DULCE MARIA RODRIGUES LAGOEIRO
Bem vinda de volta Antônia! Estava com saudades de você!