Não precisa ser nenhum gênio para concluir que esse ano foi fodido. Desculpe o meu francês, eu normalmente sou mais educada, mas esse ano foi fodido e pronto. Se você torcia pela Dilma, por Temer, pelo país, foi fodido. Pela economia brasileira, pela mundial, ou pela sua, foi fodido. E quanto tenta sair da esfera econômico-política, e for para religião, relações humanas, causas ecológicas ou mesmo futebol, você vai concluir que 2016 não tava pra brincadeira. 2016 literalmente cagou para os nossos planos de 2015, e cuspiu na cara da maioria dos otimistas. Eu sei, eu mesma nunca tinha escrito que um ano foi fodido, e cá estamos. Fo-di-do.
Mas então eu resolvi ser despeitada com 2016, do mesmo jeito que ele foi comigo, e quis mostrar pra ele que era EU que mandava na bagaça. Listei aqui 16 coisas que eu tive medo neste ano que passou. E 16 pequenas/grandes vitórias que eu carrego sob costas, hoje, mais largas. Acho que eu até fiquei mais alta em 2016, de tanto que eu me estiquei para colocar o nariz pra fora do turbilhão de cada dia. E se eu puder pedir uma coisa neste ano, que seja que ao final desta sessão, você – que está aí me lendo, e que é parte desta sessão tanto quanto eu – compartilhe um medo e uma superação que enfrentou no fodido ano de 2016.
Eu comecei o ano com uma das tarefas mais difíceis que alguém que ama pode ter: viver além da saudade. Despedir-me do meu irmão foi e segue sendo um processo diário de sobrevivência. Em 2016 eu me dei conta de que eu não morri junto com o meu amor. E isso me assustou muito. Muito. Porque se no momento mais louco da minha visão de futuro eu sonhasse que perderia alguém tão próximo e crucial como foi, e ainda é, o meu irmão, eu sempre me imaginei partindo junto. E eu não parti. Eu fiquei. Eu sobrevivi à despedida. E mais do que isso: eu ousei ser feliz. Porque era assim que ele ia querer. Porque ser feliz sempre foi o objetivo, e mais do que isso, sempre foi uma certeza de merecimento.
Quando a gente começa a pensar sobre a finitude do nosso tempo, a gente começa a valorizar mais a dança dos ponteiros. E eu passei a dizer não para aquilo que não me agregava, não me dava prazer, e não fazia jus o valor do meu tempo. Nos primeiros ensaios, dizer não parecia uma ofensa mortal às outras pessoas. Então aprendi que dizer SIM apenas porque os outros querem era uma ofensa a mim mesma. Então eu me dei prioridade, e o NÃO virou meu amigo.
Eu nunca lidei bem com rejeição, talvez porque eu tenha sido sortuda (ou manipuladora) o suficiente para não encarar os nãos dos outros por muito tempo. Pois esse ano eu amordacei meu ego no porão do meu consciente, e disse com todas as letras que eu gostava de alguém. Tipo, no dia dos namorados (porque não tinha drama suficiente envolvido… nãooooo…). E eu levei um fora. Gentil, suave, mas um fora. Ganhei uma amizade, e superei não apenas o fora, mas o medo de seguir platônica. E superei o platônico também. Hoje eu tenho a completa certeza de que existem riscos que valem a pena correr, nem que seja para seguir a diante.
Bem, eu tenho superado o medo de errar num ato contínuo e diário. Eu larguei meu próprio chicote e assumi que na grande maioria das vezes, eu não erro querendo errar, muito pelo contrário: erro tentando acertar. E esta conclusão tem me ajudado a ser mais gentil comigo. Afinal, como que eu perdoo os erros do outros com facilidade, e me mando para a masmorra a cada tropeçãozinho? 2016 eu me dei uma chance, e tem sido maravilhoso aprender a me perdoar.
Talvez tenha sido influência de Glória Perez e o Oscar, ou porque neste ano tanta gente fez merda, eu decidi também adubar a vida. Não sei o motivo. Mas apostei nos meus instintos, nos conhecimentos que reuni ao longo dos anos, e parei de me exigir perfeição. O resultado foi um aumento de produtividade imenso, e ascensão na minha curva de aprendizado. Afinal, sem o medo de errar, a gente vai lá e tenta, e é só tentando que de fato, consegue. Pura e simplesmente.
Ok, esse aprendizado é novinho em folha, mas tem fortalecido os meus passos (literalmente) todos os dias. Superei o medo de achar que eu dependia de carro para tudo, e como resultado o meu leque de possibilidades duplicou e a minha criatividade para vencer dilemas de mobilidade ainda não conhece limites. Chupa IPVA.
Talvez aqui tenha sido mais por necessidade, do que por vontade. Eu fiquei cansada de ter que ter todos os meus passos planejados, porque assumi que essa vida é louca mesmo, e que é mais produtivo treinar o improviso, do que prever o imprevisível. Ou como disse um amigo meu, “eu acredito na lei da sobrevivência das espécies – sobrevive quem se adapta”. Claro que os dinossauros botarão a culpa no asteroide – mas fora o asteroide, eu sei de perdurar. Essa é a meta.
Essa foi difícil, porque por mais que eu demore a admitir, eu sou muito competitiva. E tenho forte tendência à comparação. Mas 2016 me ensinou a ser mais colaborativa, e ainda que tenha medo de cair no velho clichê de que “juntos somos mais fortes”, de fato, a recíproca é verdadeira. Eu superei o medo de não ser a melhor, e no processo, me tornei bem melhor do que eu era. E foi irônico. E eu ri da minha paspalhice.
Ok, essa é super pessoal, mas eu passei boa parte da minha vida adulta com medo de comer tomate cru, por razões que fogem a minha compreensão. Bruschettas me ajudaram na superação deste medo, e por elas – agradeço aos italianos.
Depois de mais uma reviravolta na família, em 2016 eu voltei para a casa da minha mãe, e superei o medo de que não daria conta de assumir algumas responsabilidades dignas de chefe de família. Abdiquei de coisas que considerava fundamentais como a minha liberdade e certo egocentrismo, e reorganizei minhas prioridades. Aceitei que nem todo mundo pode ter a referência de pai e mãe que eu tive, o que é uma pena, mas que eu nunca vou deixar de batalhar para ser referência e porto seguro para minha família.
O ano de 2016 levou embora algumas das pessoas que eu pensei que sempre teria por perto. Trouxe outras de volta, e levou mais algumas. E eu entendi que está tudo certo. Que pessoas não deixam de se amar porque tomaram rumos diferentes. Ou mesmo de que muitas amizades simplesmente acabam. E outras iniciam, se fortalecem – e estes ciclos são naturais, e responsabilidade mútua de no mínimo dois lados, e não apenas do meu.
Ainda que eu goste de sexo, de beijo na boca, de nude na madrugada, de conchinha na cama. Eu superei o medo de não ter alguém do meu lado, e que tudo é transitório. Eu sou completamente desconfiada daquela frase (quase brega) de que “o que é teu tá guardado” – porque se fosse o caso, eu ficaria bem preocupada já que eu vivo perdendo tudo que eu guardo. Mas eu acredito no poder da plenitude, e de quando a gente está de boa com a nossa companhia, a tendência natural, é que outras pessoas façam questão dela.
Porque se mexerem comigo na rua, eu vou fazer fiasco. Porque se limitarem os meus direitos, ou os de quem eu amo, ou mesmo os de quem eu nem conheço, eu vou fazer fiasco. Porque se for para comemorar as vitórias da vida, eu vou fazer fiasco. E se eu tentar dançar depois de beber… preparem-se: eu vou fazer fiasco. E não vou pedir desculpas.
E para este eu só tenho a dizer: graças a Deus e já não era em tempo de entender a diferença entre autossuficiência e teimosia.
E mesmo que isso soe um tanto em desacordo com meu discurso mais famoso, de que é preciso ir embora, eu aprendi em 2016, de novo e mais uma vez a importância do timing de ir embora. Eu perdi o medo de ir embora do meu trabalho, ainda que isso pudesse magoar o meu pai. E nós dois ficamos bem depois do passo dado, ainda que dado na fé. Eu perdi o medo de ir embora de relacionamentos mal resolvidos do passado. Eu perdi o medo de ir embora das salas das quais eu não era bem vinda, não me agregavam ou que eu não agregava. Eu superei o medo de ir embora de 2016, um ano fodido, mas cheio de aprendizado.
Eu superei o medo de me arriscar. 2016 eu assumi pra mim mesma que a vida é cheia de saltos baseados no improvável, no incomum, no intangível. Mas que com fé e muito desejo, a gente pode ter surpresas bem maravilhosas para contar no ano que inicia. Como uma cachoeira de 5 metros de altura, cuja delícia você só goza, se você se atira. A moral é entrar em 2017 dando tibum mesmo, porque tem muita água para rolar.
Fim da sessão.
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