Eu sou como qualquer pessoa normal, que leva a vida da berlinda entre o planejamento e a sorte. Costumo ser prevenida com a maioria das coisas, uso filtro solar, e tento não andar por becos estranhos. Eu não deixo de tomar sol ou de caminhar os caminhos que quero seguir visitando. É um equilíbrio entre o cuidado e a buona-fortuna, como dizem os italianos. Ainda que vida me surpreenda com problemas, eu tenho a positividade como premissa básica na maioria das vezes, nem que seja para me lembrar das coisas que tenho que aprender, mesmo na dificuldade.
Fato é que eu não posso reclamar da sorte. Mesmo na pior das hipóteses. Semana passada minha mãe fez uma postagem sobre como sentia a falta do meu irmão. Daqueles relatos de desaguar um coração, porque afinal, mãe nenhuma merecia enterrar um filho. O relato da minha mãe era lindo, acima de tudo, porque falava sobre a experiência dela ao conhecer duas mães que haviam perdido dois filhos. E nada pode ser pior do que perder um filho. A não ser que você perca dois, não é mesmo? Ela também falava da sorte de ter amado meu irmão em vida durante lindos 26 anos. Há de se reconhecer a beleza celestial da minha mãe, mesmo frente a maior dor do mundo. Eu sei, porque divido essa sensação com ela. É triste? Muito. Mas a sorte também foi generosa por muitos anos.
Não é a toa que tenho um trevo de 4 folhas no pulso, ao lado da letra do nome do melhor amigo que a vida já me deu e cuja mãe maravilhosa, nós dividimos.
A minha jornada, entretanto, sempre testou a minha fé na sorte. Por viajar muito, eu sempre me meti em perregue, pra me lembrar de ficar vigilante. “Desbrave o mundo garota, mas tenha cuidado”. E sempre que achei que ia tomar uma ruim feia, uma esperança na sorte se materializava na minha frente. Eu já tive o ticket de trem pago por um completo estranho quando não tive a moedas numa madrugada em Istambul. Já perdi meu passaporte, que foi encontrado por uma gentil croata. Eu quase fui presa em Roma, tomando banho numa fonte pública, mas a viatura não comportava os outros 16 turistas que estavam comigo. Eu sei, às vezes falta juízo, mas meu anjo da guarda, esse não falha nunca. E se falha, manda lembrete de que por vezes ele também cansa de mim, e isso me dá razões pra revisar minhas posturas.
Eu já fiz 3 cirurgias graças a boa vontade de urologista na Austrália, quando fui acometida de um aerólito no rim esquerdo. Fui protegida por outro mochileiro contra bombas de gás lacrimogênio em Atenas. Já fiquei sem bateria trilhões de vezes para então encontrar com alguém que me ajudasse a chegar a algum lugar ou mesmo a pedir ajuda. Eu tento andar do lado seguro da vida, mas minhas melhores histórias não seriam as mesmas sem algum risco. Não dá pra viver numa redoma de vidro. Não dá pra andar sempre no fio da navalha.
Verdade é que minha sorte sempre foi justa entre o passar a mão na minha cabeça, e um bom puxão de orelha. Eu tento a ser atenta aos dois, e talvez por isso eu tenha sorte, até quando eu tenho azar. Pela minha capacidade de aprender. “Nem sempre as coisas vão ser assim”, é minha premissa é básica na alegria e na tristeza. Se me fodi de forma magistral: “Nem sempre as coisas vão ser assim”. Se tirei a sorte grande: “Nem sempre as coisas vão ser assim”. Essa balança me ensina. Dá perspectiva.
E nesse aprendizado eu aprendi que a sorte é presente quando a gente está atenta. Final de semana passado, peguei o rumo para um festival grande que rola aqui no Rio Grande do Sul, o Planeta Atlântida. Para chegar até lá, pedi carona para uma amiga, que me levou até parte do caminho, e o restante eu faria a pé. Pois foi eu descer do carro da guria, para o temporal que Deus mandou cair sobre a minha blusa branca, praticamente deixando os peitos a mostra e o telefone a um passo de ficar ensopado. Procurei abrigo numa viatura da polícia militar, morrendo de medo (meus encontros com a polícia sempre foram meio tensos, ora afinal, eu pulo em fontes públicas). Dentro da viatura a policial me orientou a chamar o uber. Quando este chegou, a mulher da lei me deu uma capa de chuva dela, ajudou-me a vesti-la, e no meu caminho ainda orientou: “agora arruma tua maquiagem, garota! E vai te divertir”.
Eu podia ter voltado pra casa. Eu podia pensar que eu estava do lado do azar. Ao invés disso, agradeci pela minha sorte – enquanto secava a blusa branca no ar-condicionado do uber (que ganhou 5 estrelas, gorjeta e elogios por aguentar o bafo do ar quente). Refiz o meu cabelo com um grampo que achei na bolsa. Pedi purpurina em um dos stands do festival pra passar nas bochechas e dar um up no look lavado. E depois disso passei a noite cantando e abraçando os meus amigos, para no fim do evento chegar ao ponto de encontro da minha carona, sem voz e sem bateria. (Sempre sem bateria). Voltei pra casa acabada, e mais feliz do que sai dela.
Sorte é isso. É conseguir sorrir pra vida depois de se recuperar de uma grande perda, ou de um simples tropeção. É limpar os olhos borrados, por lágrimas ou pela chuva. E decidir seguir em frente, apesar de todo azar, e acima de qualquer sorte.
Que sorte a minha, vida! Gratidão.
Fim da sessão.
(Amém. 3 batidas na madeira. Um prece de manhã, um agradecimento a noite. Tomar passe vez que outra. Meio limão de vez em quando. Um sal grosso aqui e ali. Ser gentil com autoridade. Dinheiro de emergência dentro do sapato, e muito, muito jogo de cintura. Só por garantia).
Se tudo é potencial, por que diabos a gente tem tanta vergonha e medo de…
Vocês já me conhecem o suficiente pra saber que meu estilo de vida é meio…
Oi. Tudo bem? Quanto tempo né? A última vez que apareci por aqui era um…
A minha amiga Amanda é conhecida e reconhecida por uma pinta que ela tem em…
Eu tenho uma raiva de todas vezes em que comentei com alguém que fiz terapia…
Eu acho que realmente aprendi o real significado de estar muito disponível com os meus…