Crônicas

Quanto tempo você vai viver?

Neste mês eu fiquei obcecada com meu destino – desculpem amigos e familiares que tiveram que me aguentar. Acontece que eu tive acesso a um conhecimento milenar que falava sobre o meu futuro, e quando entendi que isso implicava na possibilidade de ter um preview da minha história, o sentimento que tomou conta de mim foi um misto de curiosidade e medo. Muito medo. E se a minha vida fosse acabar ali na frente? O que seria dos meus sonhos, dos meus projetos? E se antes de partir eu não encontrasse o amor da minha vida? O que seria da minha família? Teria filhos? Teria tempo de viajar o mundo? Daria tempo de ser ainda mais feliz?

O meu medo era tanto que na noite anterior da minha consulta, eu fiz o que faço quando as coisas me transbordam. Embriaguei a minha consciência, para lidar com um possível desfecho indesejado. No dia da consulta, fiquei de castigo. O primeiro aprendizado em relação ao meu futuro, foi que eu precisava cuidar dos meus “transbordamentos”, e assim o acesso da minha história foi prorrogado em uma semana, com orientações que eu meditasse e rezasse um pouco.

Eu tive que procurar a paz interior que me faltava. E não importa que religião a gente aprende, você já parou pra pensar que do mantra indiano a um Pai Nosso, a orientação é sempre um período de reflexão em silêncio? Seja qual for a prática de oração, a gente sempre é conduzido a repetir palavras que nem entende, para que no caminho, conecte-se com a própria espiritualidade (aquela pessoal e intransferível) e com a nossa consciência. No meu momento de reflexão, aprendi que não precisava ter medo da minha história, e que devia olhar para ela com a bravura com a qual eu sempre encarei as coisas.

Quando o dia de saber o meu futuro chegou, o meu livre-arbítrio já estava mais forte. Eu havia psicopatiado tanto a respeito da minha história, que havia me esquecido que – como escritora da própria vida – quem faz as edições dos próximos capítulos sou eu. Não importa se o meu destino está nos astros, nos búzios, na borra de café, ou numa folha de bananeira de milhares de anos. E neste exercício de pensar sobre quanto tempo eu tinha neste mundo, me fiz o convite de pensar o que havia feito com o tempo que já tinha recebido. E aqui, o convite é passado pra você.

E se a tua história acabasse hoje, como você seria lembrado? Que pessoas sentiriam a tua falta? Como te descreveriam? Qual seria o teu legado? Que sentimento a tua memória despertaria nos outros? Essas e tantas outras, foram perguntas importantes que inconscientemente eu sempre questionei. E talvez por isso a minha intensidade sempre tenha me ocupado com o aqui e agora, buscando um equilíbrio essencial entre o que já foi e o que virá. Nesta semana eu tive que tomar uma decisão difícil, e ao dividi-la com um amigo, ele me fez uma pergunta determinante – “e se tu não tentar essa tarefa difícil, como tu vais te sentir?”. Respondi da ponta da língua: “não sei, seria a primeira vez, porque eu nunca deixei de tentar algo importante por ser difícil”. “Pois então tu já tens a tua resposta”, ele me respondeu. Esse diálogo define como eu vejo a vida, e talvez, muito de como eu encaro o meu futuro.

Sabe, às vezes a gente se preocupa com coisas tão mundanas, que esquece que aquilo que se leva da vida são apenas os momentos, e o que se deixa é tão somente o nosso legado. Fernanda Young partiu hoje, nova como o sobrenome, aguerrida, criativa, realizadora. Ela partiu muito cedo, e uma parte de mim aposta que – mesmo antecipada – a partida foi orgulhosa pela vida que levou, pelos valores que teve, pelas batalhas pessoais que lutou.

Então talvez a pergunta que nos caiba todos os dias, não seja quanto tempo a gente ainda vai viver. Mas o quanto do tempo que tivemos, a gente de fato, viveu. A resposta por si só, define o nosso futuro. E assim, eu garanto, muito de nós pode viver pra sempre.

Fim da sessão. 

Antônia no Divã

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