Eu não consigo me recordar de um ano onde tive que lidar com tanta adversidade como neste. E adversidade é uma palavra sútil que eu preferi usar ao invés de tragédias. Foram perdas irreparáveis, despedidas cruéis, separações, mudança de trabalho, de casa, de rotina, tudo dentro de nada menos que 12 meses. E se as mudanças já assustam quando planejadas, imagina recebê-las sem aviso prévio. É como um tremendo caldo que você leva ao tentar sair de um mar com ondas fortes. Você não sabe exatamente o que te atingiu, ou para que direção nadar na intenção de colocar o nariz para fora d’água. Você apenas nada, num instinto animalesco de sobrevivência.
Eu sempre me considerei uma pessoa determinada, uma vez que foram raras as exceções em que eu não lutei e conquistei algo que realmente queria. E ia além, já que eu nunca tive problema em trabalhar mais em busca da excelência. Assim, eu construí uma imagem tipo Xena, a princesa guerreira. As pessoas passaram a reconhecer minha fé inabalável no futuro, minha energia recarregável para todo tipo de missão, força e atitude para dar e vender, e a tal da determinação que beirava a teimosia. Ninguém nunca me imaginou desistindo de nada.
Isso mudou nos últimos meses. Eu passei a ter dificuldade para as tarefas simples, como sair da cama. Comecei a ter horas mais longas de sono, e sofrer de uma fadiga emocional constante. Minha mãe, com quem eu passei a morar, começou (como nunca) a respeitar o meu espaço, sem é claro, abrir uma brechinha da janela para que eu me lembrasse de que o sol ainda brilhava lá fora, me ajudando nos meus primeiros passos do dia. Preocupei-me com uma possível depressão, e fiquei alerta a outros sintomas, mas nenhum deles se confirmou. Trabalhei o meu silêncio em situações em que eu costumava me palestrar. Fiquei mais em casa, do que na rua. Tive medo de inúmeros sentimentos tão estranhos deste novo momento. E acompanhei cada mudança com cautela.
Eu posterguei projetos que eram importantes para mim, por não encontrar energia ou inspiração de inicia-los. Eu desisti de lutas de outras pessoas, porque estava cansada com a minha própria. Teve um incidente em que a amiga X cobrou uma atitude diferente quando desisti de cuidar da amiga Y que optou por operar em módulo destrutivo, indiferente dos meus esforços de convencê-la do contrário. E eu entendi perfeitamente a sua frustração. Ela nunca tinha me visto desistir de alguém, pois o meu altruísmo não me permitia, e consequentemente ela esperava mais de mim. Mas neste momento eu aceitei que não podia entregar mais nada do que meu compromisso com a minha sobrevivência. Eu havia decidido, por hora, abrir mão da minha determinação. Foi assim que eu descobri a grande e importante diferença entre determinação e sobrevivência.
Eu vi muita gente aplaudindo a minha vontade de seguir em frente, quando tudo trabalhava para o contrário. E confesso que olhei com estranheza para essa admiração, já que aquilo que aplaudiam não era uma escolha (determinação), mas um instinto (sobrevivência). A frase “você não sabe o quanto é forte, até que ser forte é sua única opção” deixou de ser piegas e virou o meu lema de vida. Minha reclamação. Quase uma piada, quando achava que as coisas não podiam piorar, e pioravam, me obrigando a tirar forças de lugares que eu nem sabia que existiam. Eu não fiquei forte por aplausos, eu fiquei forte porque não tive escolha.
E assim, aprendi aquela outra lei, de que a dor ensina a gemer. Eu aceitei o meu luto e os momentos de desestímulos. Parei de me cobrar excelência em tudo. Resultados a qualquer custo. Trabalhei meu egoísmo, e deixei de agradar os amigos. Eu aceitei a minha vontade de abraçar travesseiros e sonhar 5 minutinhos a mais com dias melhores, apenas porque eu, como todo mundo, estou sofrendo de realidade. Daquelas que eu não posso mudar, e estou aprendendo à aceita-las. Não dá pra mirar na alta-performance em qualquer fase, e eu não consigo ser alegre o tempo inteiro. É um mindset todo novo para uma otimista-idealista incorrigível como eu, muito provavelmente algo temporário. E não é surpreende que eu me sinta esgotada com o processo.
Mas foi pensando sobre isso que eu tracei a diferença entre determinação e sobrevivência como dois momentos distintos que não podem ser confundidos, e muito menos julgados. Determinação é aquela fase em que você tem plenas condições mentais de funcionamento para atingir seus sonhos e objetivos. De superar seus medos e rancores, superar a você mesmo. Sobrevivência é visceral. É foco no vital, no funcional. É aquele momento da vida de botar a barba de molho, lamber as feridas. Sobrevivência é aquela fase de admitir que todos temos limites – até os mais determinados. É o respeito pela luta do simplesmente existir. E para este momento tempo, paciência e respeito são necessários. Não dá pra ser determinado o tempo inteiro. E isso não quer dizer que lutar para simplesmente botar o nariz para fora d’água, não seja o maior ato de coragem que você vai ter durante a sua vida.
É preciso coragem para não se afogar e sobreviver. E determinação para nadar, sair do mar e aí então, viver.
Fim da sessão.
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