autora convidada

E quando a greve acabar? | Jamile Hallam

 

E quando a greve acabar? – por Jamile Hallam

Sim, quando a greve acabar como você vai se comportar?

Você que ainda tem mais de meio tanque de gasolina, vai correr para o posto já no primeiro dia, ou vai deixar que aqueles que estão secos abasteçam primeiro? Ou quem sabe vai doar parte dos alimentos que estocou para alguma escola ou hospital com maior urgência? Você vai continuar comprando na fruteira pequena do seu bairro que não ficou desabastecida porque compra de produtores locais, ou vai correr para as grandes redes de supermercado, e esquecer que ela existe?

Vai acabar com os rodízios de carona na turma da escola dos seus filhos e voltar a entupir a porta de escola e o trânsito em filas intermináveis de carros? Vai seguir indo trabalhar de Bicicleta? Vai seguir preocupado sobre como seus funcionários irão trabalhar? Vai pensar no catador e separar melhor o seu lixo, que só não está com uma pilha maior na frente da sua casa, pois ele tem passado lá, com aquele carrinho que tanto te atrapalha no trânsito?

Nosso comportamento durante esta greve diz muito sobre nossos hábitos de consumo, e a forma como nos relacionamos em sociedade. Fala muito sobre egoísmo. Sobre a empatia e a solidariedade. A falta, no caso.

Lembro de ter visto diversas vezes, quando um colega de trabalho fica sem carro por alguns dias, outro colega prontamente lhe oferecer carona, afinal “não me custa nada”. Por outro lado, infelizmente, não lembro de ter visto o mesmo oferecer carona àquele outro colega que não tem carro, naqueles dias em que São Pedro despeja baldes de água sobre nossas cabeças.

Pena também, não ter visto aquele que tem três carros em casa, que mora e trabalha na mesma cidade, e que obviamente encheu o tanque dos três, oferecer alguns litros desse precioso líquido, para outro colega que mora longe poder vir trabalhar durante a greve.

Mesmo lamentando perceber tudo isso, eu entendo este comportamento. Nessa hora, o individualismo aparece, pois infelizmente não temos a certeza que o outro faria o mesmo por nós. Não confiamos mais no próximo. Não somos solidários, ou só “somos” durante campanhas do agasalho, onde muitas vezes o que nos motiva a limpar o armário é arrumar mais espaço para poder comprar mais.

Nos tornamos pessoas pouco empáticas, incapazes de calçar os sapatos dos outros. Em todos os nossos tipos de relacionamentos, trabalho, família, sociedade, relacionamentos afetivos, machucados e descrentes que estamos, perdemos a confiança nas pessoas.

Então fica aqui o convite à reflexão sobre a forma que você se relaciona em sociedade e até sobre seus hábitos de consumo. Dá sempre para fazer diferente, oferecer carona, separar seu lixo, consumir menos, comprar daquele mercado ou lojinha pequena do seu bairro, onde você pode ir até mesmo a pé e ainda colabora com o desenvolvimento daquela região, enfim!

E dito tudo isso, tenho certeza que descrentes dirão: “Isso nunca vai acontecer”! E com o coração ainda cheio de esperança, eu lhes respondo:

Alguém tem que começar, que sejamos nós!
Escritora: Jamile Hallam ///


Fim da sessão [da Jamile]

psiu: Jamile, que esse seja mais um empurrão para fazer seus verbos voarem soltos por aí. Beijos, Antônia

Antônia no Divã

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