Suspiros

Relacionamento raiz, não Nutella

em
4 de março de 2018

 

Quem olha as contas de Instagram do seu casal preferido, não imagina o que rola na vida de duas pessoas quando não existe a possibilidade de filtro. Quem olha as minhas fotos com meu namorado, só percebe o tom lindo de verde dos olhos dele somado ao carinho no olhar. Não sabe que ele fica puto quando eu acordo e não tomo a água com limão que ele preparou. E mais ainda quando eu digo que tomo porque ele me obriga, e não porque faz bem. Não, isso não está no Instagram.

A vida a dois é para os fortes. É raiz, e não Nutella. Apesar do mozão e eu já termos dividido histórias morando juntos aqui e ali, é a primeira vez no nosso relacionamento que nos mudamos para uma casa só nossa, onde mora só nós dois. SÓ NÓS DOIS. Ou seja, neste domingo a tarde, só temos um ao outro pra conversar, questionar a vida, ou discutir o plano do almoço. Sim, isso é muito bom, muito lindo, e parece o início perfeito de um conto de fadas. Mas conto de fadas é muito Nutella pra vida real. Nossa vida a dois é mais raiz.

É mais raiz porque mesmo ocupando nosso ninho de amor por apenas alguns dias, a gente precisou estabelecer regras de convívio básico para evitar que a rotina fosse pauta suficiente para um querer jogar o outro pela janela. Aonde vão as roupas sujas, quem se responsabiliza pelo que, que contas são prioridade, como e quando receber visitas, entre outras questões que ainda estamos estabelecendo. Parece muito mecânico eu sei, mas vida a dois costuma ser bagunçada, sem limites de onde começa e termina o espaço do outro, e isso me assusta. Então resolvemos conversar cedo sobre o assunto, pra aumentar nossa chance de sucesso.

Mas a nossa conversa obrigou-se a ir além de não deixar a toalha molhada em cima da cama. Tivemos uma resolução séria em três aspectos da vida de um casal, que em nossa opinião, seriam fundamentais para a possibilidade de um futuro. E aqui vão os nossos três acordos máximos de um relacionamento raiz, e não Nutella.

Nós não somos responsáveis pela felicidade um do outro.

Considerando que o meu relacionamento é formado por duas pessoas que sempre lutaram por independência, nós decidimos que isso era algo valioso a preservar. Então na nossa primeira longa discussão morando juntos, firmamos que nós não seriamos responsáveis pela felicidade um do outro. Ou pela paz de espírito um do outro. Ou pela evolução um do outro. Nós poderíamos sim, colaborar para tudo isso. Apoiar esses projetos. Torce por eles. Contribuir com eles. Mas nunca sermos responsáveis um pelo projeto/resolução/felicidade do outro.

Haverá um espaço comum

Para não deixar essa independência toda crescer desenfreada, e virar um monstro entre nós dois, nós decidimos ficar atentos a pontos comuns. Criar fóruns de interesse mútuo. Algo simples como arrumar um tempo no dia para contar como andam nossas vidas particulares (trabalho, livros, outros), dar uma caminhada até a praia, treinar juntos, ou mesmo, ir para a cama no mesmo horário. Confesso que o alinhamento dos ponteiros é fundamental. Eu tenho mania de estender meu dia até 3am, o mozão acorda as 6am. Ou seja, se não houver zelo pelo convívio, nós perdemos 6h do dia um do outro, e algo maravilhoso como dormir de conchinha.

Nós não nos renderíamos à necessidade humana de reclamar de tudo

Logo de início, estabelecemos que não cairíamos na rotina de reclamar de tudo. Se a pia está vazando, ou nós tomaríamos uma atitude, ou nos conformaríamos que a pia iria ficar vazando. Nada de longas discussões sobre coisas que podemos ou não podemos mudar. O que podemos, mudamos. O que não podemos, conformamo-nos. A gente deveria tomar partido com uma escolha. Acima de tudo, e sempre que pintasse vontade de dar uma reclamada mais profunda ou descabida, o outro faria a parte importante de reconhecer a nossa sorte, na intenção de dar perspectiva a quem reclamasse. Lembraríamos um ao outro o que de fato são problemas, tristezas e dores de verdade. Até para não deixar qualquer pentelho virar um obstáculo.

Claro, a gente ainda vai discutir por coisa idiota. Vai se arrepender. Sabe que vai ter que praticar tolerância e paciência todos os dias. Como pedir para o seu namorado passar uma vassoura na casa, enquanto você está louca com alguns deadlines do trabalho. E ele não vai passar. E você vai ter que escolher passar a vassoura você mesma, ficar puta, depois desficar. O importante é lembrar  que vida a dois é raiz, porque queremos crescer juntos. Porque raiz dá base, e Nutella dá câncer, gera desmatamento. Nutella, apesar de doce, é o contrário de raiz.

Então se você, como eu, quer ver um relacionamento crescer, ficar lindão, nutra ele com boas premissas, respeito e espaço. Regue-o com boas ideias. Dê uma podada naquilo que precisa de poda. Mas acima de tudo, acredite na colheita.

 


Fim da sessão.

ps: Mozão, se você está lendo essa sessão, por Jeová, passa a caralha da vassoura na casa, por favor. Te amo um montão. <3

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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