Efemérides

16 medos

em
14 de dezembro de 2016

Não precisa ser nenhum gênio para concluir que esse ano foi fodido. Desculpe o meu francês, eu normalmente sou mais educada, mas esse ano foi fodido e pronto. Se você torcia pela Dilma, por Temer, pelo país, foi fodido. Pela economia brasileira, pela mundial, ou pela sua, foi fodido. E quanto tenta sair da esfera econômico-política, e for para religião, relações humanas, causas ecológicas ou mesmo futebol, você vai concluir que 2016 não tava pra brincadeira. 2016 literalmente cagou para os nossos planos de 2015, e cuspiu na cara da maioria dos otimistas. Eu sei, eu mesma nunca tinha escrito que um ano foi fodido, e cá estamos. Fo-di-do.

Mas então eu resolvi ser despeitada com 2016, do mesmo jeito que ele foi comigo, e quis mostrar pra ele que era EU que mandava na bagaça. Listei aqui 16 coisas que eu tive medo neste ano que passou. E 16 pequenas/grandes vitórias que eu carrego sob costas, hoje, mais largas. Acho que eu até fiquei mais alta em 2016, de tanto que eu me estiquei para colocar o nariz pra fora do turbilhão de cada dia. E se eu puder pedir uma coisa neste ano, que seja que ao final desta sessão, você – que está aí me lendo, e que é parte desta sessão tanto quanto eu – compartilhe um medo e uma superação que enfrentou no fodido ano de 2016.

1) Eu superei o medo de viver sem alguém que eu amo.

Eu comecei o ano com uma das tarefas mais difíceis que alguém que ama pode ter: viver além da saudade.  Despedir-me do meu irmão foi e segue sendo um processo diário de sobrevivência.  Em 2016 eu me dei conta de que eu não morri junto com o meu amor. E isso me assustou muito. Muito. Porque se no momento mais louco da minha visão de futuro eu sonhasse que perderia alguém tão próximo e crucial como foi, e ainda é, o meu irmão, eu sempre me imaginei partindo junto. E eu não parti. Eu fiquei. Eu sobrevivi à despedida. E mais do que isso: eu ousei ser feliz. Porque era assim que ele ia querer. Porque ser feliz sempre foi o objetivo, e mais do que isso, sempre foi uma certeza de merecimento.

2) Eu superei o medo de dizer NÃO.

Quando a gente começa a pensar sobre a finitude do nosso tempo, a gente começa a valorizar mais a dança dos ponteiros. E eu passei a dizer não para aquilo que não me agregava, não me dava prazer, e não fazia jus o valor do meu tempo. Nos primeiros ensaios, dizer não parecia uma ofensa mortal às outras pessoas. Então aprendi que dizer SIM apenas porque os outros querem era uma ofensa a mim mesma. Então eu me dei prioridade, e o NÃO virou meu amigo.

3) Eu superei o medo de levar um fora.

Eu nunca lidei bem com rejeição, talvez porque eu tenha sido sortuda (ou manipuladora) o suficiente para não encarar os nãos dos outros por muito tempo. Pois esse ano eu amordacei meu ego no porão do meu consciente, e disse com todas as letras que eu gostava de alguém. Tipo, no dia dos namorados (porque não tinha drama suficiente envolvido… nãooooo…). E eu levei um fora. Gentil, suave, mas um fora. Ganhei uma amizade, e superei não apenas o fora, mas o medo de seguir platônica. E superei o platônico também. Hoje eu tenho a completa certeza de que existem riscos que valem a pena correr, nem que seja para seguir a diante.

4) Eu superei o medo de errar.

Bem, eu tenho superado o medo de errar num ato contínuo e diário. Eu larguei meu próprio chicote e assumi que na grande maioria das vezes, eu não erro querendo errar, muito pelo contrário: erro tentando acertar. E esta conclusão tem me ajudado a ser mais gentil comigo. Afinal, como que eu perdoo os erros do outros com facilidade, e me mando para a masmorra a cada tropeçãozinho? 2016 eu me dei uma chance, e tem sido maravilhoso aprender a me perdoar.

5) Eu superei o medo de não saber.

Talvez tenha sido influência de Glória Perez e o Oscar, ou porque neste ano tanta gente fez merda, eu decidi também adubar a vida. Não sei o motivo. Mas apostei nos meus instintos, nos conhecimentos que reuni ao longo dos anos, e parei de me exigir perfeição. O resultado foi um aumento de produtividade imenso, e ascensão na minha curva de aprendizado. Afinal, sem o medo de errar, a gente vai lá e tenta, e é só tentando que de fato, consegue. Pura e simplesmente.

6) Eu superei o medo de ficar sem carro.

Ok, esse aprendizado é novinho em folha, mas tem fortalecido os meus passos (literalmente) todos os dias. Superei o medo de achar que eu dependia de carro para tudo, e como resultado o meu leque de possibilidades duplicou e a minha criatividade para vencer dilemas de mobilidade ainda não conhece limites. Chupa IPVA.

7) Eu superei o medo de não fazer planos.

Talvez aqui tenha sido mais por necessidade, do que por vontade. Eu fiquei cansada de ter que ter todos os meus passos planejados, porque assumi que essa vida é louca mesmo, e que é mais produtivo treinar o improviso, do que prever o imprevisível. Ou como disse um amigo meu, “eu acredito na lei da sobrevivência das espécies – sobrevive quem se adapta”. Claro que os dinossauros botarão a culpa no asteroide – mas fora o asteroide, eu sei de perdurar. Essa é a meta.

8) Eu superei o medo de não ser a melhor.

Essa foi difícil, porque por mais que eu demore a admitir, eu sou muito competitiva. E tenho forte tendência à comparação. Mas 2016 me ensinou a ser mais colaborativa, e ainda que tenha medo de cair no velho clichê de que “juntos somos mais fortes”, de fato, a recíproca é verdadeira. Eu superei o medo de não ser a melhor, e no processo, me tornei bem melhor do que eu era. E foi irônico. E eu ri da minha paspalhice.

9) Eu superei o medo de tomate.

Ok, essa é super pessoal, mas eu passei boa parte da minha vida adulta com medo de comer tomate cru, por razões que fogem a minha compreensão. Bruschettas me ajudaram na superação deste medo, e por elas – agradeço aos italianos.

10) Eu superei o medo de ser chefe de família.

Depois de mais uma reviravolta na família, em 2016 eu voltei para a casa da minha mãe, e superei o medo de que não daria conta de assumir algumas responsabilidades dignas de chefe de família. Abdiquei de coisas que considerava fundamentais como a minha liberdade e certo egocentrismo, e reorganizei minhas prioridades. Aceitei que nem todo mundo pode ter a referência de pai e mãe que eu tive, o que é uma pena, mas que eu nunca vou deixar de batalhar para ser referência e porto seguro para minha família.

11) Superei o medo de perder amigos.

O ano de 2016 levou embora algumas das pessoas que eu pensei que sempre teria por perto. Trouxe outras de volta, e levou mais algumas. E eu entendi que está tudo certo. Que pessoas não deixam de se amar porque tomaram rumos diferentes. Ou mesmo de que muitas amizades simplesmente acabam. E outras iniciam, se fortalecem – e estes ciclos são naturais, e responsabilidade mútua de no mínimo dois lados, e não apenas do meu.

12) Superei o medo de ficar sozinha.

Ainda que eu goste de sexo, de beijo na boca, de nude na madrugada, de conchinha na cama. Eu superei o medo de não ter alguém do meu lado, e que tudo é transitório. Eu sou completamente desconfiada daquela frase (quase brega) de que “o que é teu tá guardado” – porque se fosse o caso, eu ficaria bem preocupada já que eu vivo perdendo tudo que eu guardo. Mas eu acredito no poder da plenitude, e de quando a gente está de boa com a nossa companhia, a tendência natural, é que outras pessoas façam questão dela.

13) Superei o medo de fazer fiasco.

Porque se mexerem comigo na rua, eu vou fazer fiasco. Porque se limitarem os meus direitos, ou os de quem eu amo, ou mesmo os de quem eu nem conheço, eu vou fazer fiasco. Porque se for para comemorar as vitórias da vida, eu vou fazer fiasco. E se eu tentar dançar depois de beber… preparem-se: eu vou fazer fiasco. E não vou pedir desculpas.

14) Eu superei o medo de pedir ajuda.

E para este eu só tenho a dizer: graças a Deus e já não era em tempo de entender a diferença entre autossuficiência e teimosia.

15) Eu superei o medo de ir embora.

E mesmo que isso soe um tanto em desacordo com meu discurso mais famoso, de que é preciso ir embora, eu aprendi em 2016, de novo e mais uma vez a importância do timing de ir embora. Eu perdi o medo de ir embora do meu trabalho, ainda que isso pudesse magoar o meu pai. E nós dois ficamos bem depois do passo dado, ainda que dado na fé. Eu perdi o medo de ir embora de relacionamentos mal resolvidos do passado. Eu perdi o medo de ir embora das salas das quais eu não era bem vinda, não me agregavam ou que eu não agregava. Eu superei o medo de ir embora de 2016, um ano fodido, mas cheio de aprendizado.

16) Eu superei o medo de me jogar.

Eu superei o medo de me arriscar. 2016 eu assumi pra mim mesma que a vida é cheia de saltos baseados no improvável, no incomum, no intangível. Mas que com fé e muito desejo, a gente pode ter surpresas bem maravilhosas para contar no ano que inicia. Como uma cachoeira de 5 metros de altura, cuja delícia você só goza, se você se atira. A moral é entrar em 2017 dando tibum mesmo, porque tem muita água para rolar.


Fim da sessão.

> E você, que medo você superou neste 2016? Conta aqui nos comentários.

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16 Comments
  1. Responder

    Fabio

    30 de março de 2017

    Que texto delicioso! Divagar pela nossa personalidade e se autoconhecer é muito bom! Acrescenta conhecimento e nos traz confiança. Confiança de que o bom é estar bem consigo mesmo e a consciência de que não temos garantia de nada.

  2. Responder

    Rosa

    9 de março de 2017

    Belo texto!Estou em constante aprendizado da técnica da superação,me orgulho de mim mesma,por ter superado o medo de dizer NÃO.Para mim foi libertador,tem me proporcionado um bem-estar fabuloso.Tenho muitos medos ainda para superar.Tô seguindo.E superarei!

  3. Responder

    Lidia Pinto Coelho Mafra

    1 de fevereiro de 2017

    Adoro seus textos!!!
    Foram tantos medos e anseios nesse ano que finalmente terminou que é até difícil enumerar, mas o medo de não ser aceita e de falar não, e o de me afastar das pessoas que me deixem triste eu acho que foi uma das coisas que aprendi e agradeço muito por isso.

  4. Responder

    Daniele

    27 de janeiro de 2017

    Em 2016 superei a culpa e fui embora… Larguei tudo, e quando sentei no avião só respirei aliviada! Finalmente a hora havia chegado.
    Mas aí 2016 mostrou sua verdadeira cara. Tive que voltar correndo, perdi meu pai, meu chão, meu rumo… Todos os meus planos esvaíram pelos meus dedos. Supero um pouco a cada dia mais, já que só o tempo é capaz de curar algo assim.
    Aprendi que não dá pra planejar tudo e que devemos aceitar as escolhas que foram feitas para nós, em nome da nossa própria sanidade.
    Amei o texto, você como sempre arrasa.
    Grande beijo.

    (ps: o seu “preciso ir embora” me inspirou e ainda inspira muito.)

  5. Responder

    Milene W Sterenberg

    4 de janeiro de 2017

    Como saber mais sobre como superou esses medos ?

    • Responder

      Antônia no Divã

      4 de janeiro de 2017

      Oi Milene. Foi tentativa e erro, e erro e erro, até o acerto. Algum medo te afligindo?

  6. Responder

    Edir Henig

    19 de dezembro de 2016

    Eu superei o medo de ser eu mesmo… e foi libertador.

  7. Responder

    Dulce

    16 de dezembro de 2016

    Superei o medo de ser tão independente, tão auto suficiente, tão “eu posso, não preciso”, tão teimosa, que fiquei perplexa como não sou só eu que gosto de ajudar as pessoas. Fui ajudada, mimada, paparicado e gostei!!!

  8. Responder

    Antonia Carolina Casagrande

    14 de dezembro de 2016

    Perfeito! O dom da palavra é algo incrível e transformador… Eu superei o medo de ir além e de buscar crescimento profissional fora do meu mundinho de bancária e descobri o incrível mundo do Coaching! Eu venci o medo da primeira sessão e me descobri transformando vidas! Eu venci o medo de mudar minha lotação e ter que pegar a estrada novamente todos os dias! Eu venci tantos outros desafios e tenho milhares ainda para destemer,mas por mais que tentasse descrever todos jamais teria o brilhantismo como tu escreves as tuas aventuras e percepções da vida e das mudanças! Um grande beijo! Uma outra amiga Aline que me mostrou teu blog e eu achei um maximo! E não por acaso ela tbm é Aline e é tão poderosa quanto vc! Alines que fizeram e fazem parte da minha vida! Vcs são demais! Gratidão por tê-las de alguma forma na minha história!

  9. Responder

    jessica

    14 de dezembro de 2016

    Que texto maravilhoso e encorajador….

    Eu superei a minha timidez e medo de achar que não era capaz, e eu fui muito capaz aliás…. E eu não superei o medo de levar um fora… Estou cultivando um amor platônico ainda… Mas espero que consiga superar esse medo até dia 31 de Dezembro

    Parabéns por nos encorajar

  10. Responder

    Flavia

    14 de dezembro de 2016

    Vc e maravilhosa e descreve muito a gente ..estreita lacos …se torna a nossa amiga ainda q não tenhamos contato …
    Eu superei o medo de expor meus sentimentos e levar um fora…
    Sim eu expus…tentei..tentei…de toda forma mas o jeito raso de amar era pouco pra mim…então aprendi a dizer não embora quisesse e a lidar com o fora …pq a pouca ou nenhuma importancia dada por ele ..era um fora…
    Saldo positivo pra mim…segue o fluxo…
    Feliz todo dia pra nós!!!

  11. Responder

    Jose D S Farias

    14 de dezembro de 2016

    Caraca. Você superou 16 medos em 2016 e chama esse ano de fodido? Foi glorioso! Eu só tenho o 12. E não supero há anos!

  12. Responder

    Marcia de la Cruz

    14 de dezembro de 2016

    1. Medo do esquecimento
    2. Medo de agradecer
    3. Medo de errar e fracassar
    4. Medo de não dar conta
    5. Medo de ser desnecessária
    6. Medo de me aceitar
    7. Medo de não ser amada
    8. Medo de perder alguém
    9. Medo de ser ignorada
    10. Medo de não estar presente
    11. Medo da preguiça
    12. Medo de ser imperfeita
    13. Medo de dizer não
    14. Medo de Brigar
    15. Medo de assumir riscos
    16. Medo de Ser Eu mesma….

  13. Responder

    Verys

    14 de dezembro de 2016

    No domingo, a mãe da minha melhor amiga faleceu, aos 47 anos, saudável, ativa, feliz. Eu nunca tive um choque tão grande quanto esse. E apesar de ter passado apenas 3 dias que isso tudo aconteceu, eu já tirei conclusões incríveis sobre isso. Eu que sempre tive MEDO DE TER PERGUNTAS NÃO RESPONDIDAS PELA VIDA, aprendi que nessa vida não se deve questionar, desconfiar, temer, apenas confiar (em Deus, na vida, no universo, no que você acreditar…) e aceitar!
    Então o MEDO que perdi foi o dos meus questionamentos infindáveis, e a ansiedade por querer entender tudo.

    Parabéns pelos seus 16 medos superados Antônia.

  14. Responder

    Ana Teté

    14 de dezembro de 2016

    Ai…. mas ai… olha, tô boba! Só pra variar: QUE TEXTO! Vamos combinar que fodido foi uma palavra bem sutil, pq foi punk hein? Ahahahah…
    Eu perdi e superei tantas coisas esse ano, que passaria hooooras aqui citando, mas acredito que a maior superação delas foi ter perdido o medo de VIVER, não o específico, o literal.
    Que entre erros e acertos, vida e morte, sucesso e fracasso, cair e levantar, tudo encontra uma forma de continuar… às vezes doído, às vezes ralado e às vezes fodido. Mas continua.
    Muita luz pra você, excelente final de ano! ✨??
    Mil bjoos ❤️?

  15. Responder

    Maurício

    14 de dezembro de 2016

    EU SUPEREI O MEDO DE SER JULGADO. É POUCO ESTOU ME LIXANDO PARA AS OPINIÕES DOS OUTROS A MEU RESPEITO.

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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