Crônicas

Tá fora do carnaval

em
23 de fevereiro de 2017

Preparem suas cuícas, pois ele está chegando. Para os foliões, um alívio ao ver o tão esperando carnaval entrando na avenida das nossas vidas. Para os que odeiam o carnaval, a boa notícia é que logo ele passa, e o ano brasileiro finalmente começa.

Aproveitei o clima de alegria para fazer o contrário da massa. Já que o carnaval é reconhecido como o momento de “liberar geral”, me ocupei de uma listagem daquilo que deveria ficar fora do samba-enredo deste ano.  Alalalôoooooo! Segura o meu batuque:

1) Tá fora do carnaval não entender que não é não.

Desistimos de vez do papinho de que tudo não passa de charminho e acreditemos da literalidade da negativa. “Siga em frente com o resto do bloco, meu bem!”. Foco nos sorrisos convidativos das outras investidas e desista de forçar a barra, a custo de ser confundido com neandertal, e levar um shade (ou um BO) em praça pública no meio da alegria.

2) Tá fora do carnaval julgar a fantasia do coleguinha.

Não importa se é uma diaba bem comportada, ou uma freira di-di saiiiiinha. Se o amigo resolveu vestir as cores do arco-íris (adoro), ou tomou goles de griter e deixou RuPaul no chinelo. Celebre a diversidade naquilo que é tida como a festa mais democrática deste país, sem piada ou atitude retrógrada. Larga desta de “ai que saco, carnaval politicamente correto”, e arrume formas mais originais de se divertir do que à custa do outro.

3) Tá fora do carnaval mijar no que é do outro.

Como uma amante da cerveja, e dona de uma bexiga que parece ser de grávida, eu sei que a tarefa não é fácil. Mas pense na tristeza de quem acorda na quarta-feira de cinzas e tem a calçada inteira tomada pelo mijo alheio. E mijo de bêbado sabe ser cruel, num é? Ah! Senhores donos de restaurantes e barzinhos: deem aquela força pra galera vai! Liberem o banheiro. Quem mija mais, bebe mais e isso é interesse de vocês também.

4) Tá fora do carnaval beber e dirigir.

E não tem mais desculpa. Vai de Uber, vai de Cabify, vai de bus, vai de taxi, vá a merda, mas não vá no volante.

5) Tá fora do carnaval se comportar como se não houvesse amanhã.

Calma! Haverá. E aí haja amanhã pra tanto ontem. Evite passar o ano inteiro de ressaca moral. Carnaval tem todo ano. Use com parcimônia.

6) Tá fora do carnaval ser idiota na cama.

Sim, é sabido que a galera transa mais no carnaval – mas não precisa transar pior. Na alegoria do “Sai Sai da Minha Cama” está aquela gente que não entende o que é preliminar, e só quer ver a mangueira entrar antes mesmo da apoteose estar liberada e “lavada”. Os despreocupados da “Vila de Não tô nem aí pra você” que não perguntam qual a sua alegoria preferida. Os sambistas das antigas da “Salgueiro é meu pau sem camisinha” que forçam sua existência, constrangem passistas e acabam com a folia. Os juízes de escola de samba que criticam quando a escola que desfila está demorando para chegar no ápice. O mestre-sala que tem nojo de descer na porta bandeiras. O abre alas que exige depilação digna de tapa-sexo. A rainha de bateria que finge orgasmo porque acha que é obrigada. Ou a “Vila da Maria vai com as Outras” que cede a pressão dos(as) amigos por qualquer motivo.

7) Tá fora do carnaval também ser idiota fora da cama.

Fingir que não conhece o/a coleguinha de escola de samba no dia seguinte. Tirar fotos de desfile intimo e divulgar para a arquibancada. Chamar foliões de nomes depreciativos porque estão na rua pra sambar. Regular beijo quando se está afim. Acreditar que amor de carnaval, não pode ser amor da vida inteira.

E por último mas não menos importante: Tá fora do carnaval não se divertir. E que a sua diversão, entenda e respeite a diversão do outro.

Afinal, respeito tem desfile nota 10, faça parte dele.


Fim da sessão

Bônus – Samba as Avessas de Pâmela Amaro, democratizando a malandragem:

Palavras-Chave

21 de fevereiro de 2017

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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