Crônicas

O mundo é seu, mas não ande sozinha.

em
8 de março de 2016

Eles dizem que o mundo é nosso, mas que não podemos andar “sozinhas”. Viajar sozinha. Ir até a esquina sozinha. Precisamos do “Vamos Juntas” para o simples ato de transitar.

Eles dizem que ser mãe é uma dádiva, mas impedem a tua escolha, marginalizando aquelas que optam pelo contrário. As mesmas pessoas que condenam o aborto, muitas vezes são desprovidas de um útero, ou mesmo da responsabilidade com a paternidade, já que o aborto masculino é legalizado de longa data.

Eles sexualizam o ato de amamentar, na mesma proporção que cobram tua responsabilidade como mãe.

Eles elogiam o vermelho do teu batom, mas negam o roxo da tua pele. Aquele que surge sempre que você “cai no banheiro” ou “tropeça na escada”.  Eles criticam o vermelho do teu batom, que é muito vermelho, o que caracteriza a tua falta de pudor e teu ar libertino. Puta, tu só podes ser.

Dão-te flores no trabalho, e um salário menor do que os colegas que vestem cuecas.

Se for negra, ou gorda, ou lésbica, teu valor será dado como inferior. Matam-te nas periferias, com a velocidade da internet 3.0, que diz que o mundo anda politicamente correto em excesso. Promovem a gordofobia, pois tuas curvas não cabem dentro de limitados padrões e da miopia de quem não entende nada sobre diversidade. Te agridem por gostares de mulher, porque teu problema é mesmo falta de pau.

Eles celebram a mulher moderna e decidida, mas condenam-na pelos shortinhos, saias, decotes, biquínis, tapas-sexo, burcas.

Vestem teus trajes no carnaval, e apedrejam outras mulheres que um dia nasceram homens.

Gostam da tua sensibilidade, te ridicularizam quando estás sensível.

Tua opinião é bem-vinda, desde que seja respaldada da razão masculina, ou o teu discurso alternará entre o “papo de mal comida” ou “de vagabunda”. Impressionante como a opinião feminina tem relação direta com a sua frequência sexual.

Serás exigida ser uma dama na sociedade e uma vagabunda na cama, enquanto muitos deles se comportam como querem na sociedade, e pouco se importam com o que queres na cama.

Alegam que somos sagradas criaturas aperfeiçoadas da costela de Adão, mas estupram os templos de Eva por que “pedimos por isso” através de nossa indumentária ou atitude.

Celebram nossa divindade de gerar a vida, enquanto a nossa própria é constantemente assediada, humilhada, mutilada, vendida, explorada, marginalizada. E com este tratamento que recebe um grupo sub-humano, um resto de gente, uma insignificância, não hei de celebrar o dia da mulher.

Dia 08 de março é um dia de luta, não deixe-se enganar pelas flores. Sim, nós somos maravilhosas! Mas lembre-se de o caminho pela igualdade é longo e árduo. Nós temos muito que revindicar, proteger, preservar. Que este dia sirva para reforçar de que juntas , somos muitas. Aliás, somos metade da força que povoa e movimenta este planeta. E mãe da outra metade. Tá mais do que na hora de botar ordem na casa.

E se o mundo é mesmo nosso, guerreemos para ter a segurança e liberdade de andar por ele sozinhas. Sozinhas, e mesmo assim, uma ao lado da outra.


Fim da sessão.

“Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida”

Milton Nascimento

Palavras-Chave
SESSÕES RELACIONADAS
9 Comments
  1. Responder

    Claudia Matos

    7 de abril de 2016

    Opa

    Curti muito esse blog.

    Por mais sites idem a este!

    Cláudia Matos da Intelimax

  2. Responder

    YSSIS

    11 de março de 2016

    Linda reflexão… Simplesmente AMEI!!! PARABÉNS
    Falou tudo que eu sempre quis e nunca consegui <3

  3. Responder

    Ana Teté

    10 de março de 2016

    Maravilhosoooo, como sempre!!!
    Juntas somos mais fortes, <3 <3 <3
    bjoos

    • Responder

      Antônia no Divã

      10 de março de 2016

      ai como te gosto! <3

  4. Responder

    anonimo

    10 de março de 2016

    Por favor, pare um minuto para raciocinar este trecho:

    “Eles dizem que ser mãe é uma dádiva, mas impedem a tua escolha, marginalizando aquelas que optam pelo contrário. As mesmas pessoas que condenam o aborto, muitas vezes são desprovidas de um útero, ou mesmo da responsabilidade com a paternidade, já que o aborto masculino é legalizado de longa data.”

    Ser mãe é sim uma dádiva, a MAIOR dádiva que existe. Se a mulher fosse menos que o homem, não seria dado a ela essa dádiva. No teu texto, ao inves de louvar essa dádiva, tu trata a maternidade como se fosse algo maldoso.

    Ser mãe é sim uma escolha, que todas mulheres livremente podem escolher, afora aquelas que infelizmente não conseguem por algum problema. Mas após a concepção, essa escolha já foi feita. Tu realmente acha que matar um ser humano indefeso, que é a pureza por essência, UMA CRIANÇA, é uma atitude sensata de alguem que defende o “amor”? Me desculpe, matar uma criança indefesa é qualquer coisa menos amor. Se tu acha que isso é amor, bom… procure ajuda.

    O fato de um homem não ter um útero, e nao carregar ele a criança, nao tira dele a responsabilidade de defender uma vida indefesa. Homem que não defende uma vida, ainda mais de um bebe, não é homem, é um monstro. Da mulher pode-se dizer o mesmo. Ou não?

    Se por aborto masculino tu se refere aqueles que não assumem a responsabilidade de pais, ele sim existem. Mas mais uma vez, quem faz isso não é homem. Não acuse todos de fazerem isso.

    É uma questão de bom senso: antes de se relacionar com algum homem, por mais “gatinho” que ele seja, a possibilidade de engravidar existe. Antes de sair tendo relações com um cara qualquer, é prudente verificar quem de fato ele é. Talvez ele não seja um “gatinho”, e sim um monstro que abandona filhos. Mas isso, minha cara, não da direito a ninguem a matar uma criança indefesa, que nao tem culpa nenhuma da má escolha que os pais fizeram.

    A tua logica a favor do aborto é assim: nao tava afim de engravidar, mas engravidei. O cara era um desgraçado, e nao quis assumir. Então eu vou la e mato a criança. Vida que segue. Isso sim eu chamo de “ódio”. E ódio contra a vida e contra a beleza que nela se insere.

    • Responder

      Antônia no Divã

      10 de março de 2016

      Primeiro: tem que ser muito homem pra assinar a opinião aqui né, “Anônimo”( anonimo@anonimo.com)? Começamos mal, afinal quem condena, deveria pelo menos assinar a sentença.

      Quando falo de aborto masculino, falo em “muitas vezes”. Não todos. Se o chapéu serviu, peço-te eu: procure você ajuda.

      Quanto a concepção de criança, qualquer dado da medicina informa que nos primeiros dias da gestação, o que ocupa o útero é um aglomerado de células, sem consciência, terminações nervosas ou qualquer coisa de constitua um ser humano. A Bíblia diz o contrário? É uma concepção pessoal? Sem problemas respeito à tua opinião e opção. Gostaria de ter a mesma dádiva – o respeito- isso também seria um presente, junto a capacidade de gerar a vida. Ser mãe é maravilhoso – quando existe condição e pré-disposição, um argumento de análise aqui pode ser o que diz a fila de crianças para adoção. (Isso sem contar as vendidas, espancadas, estupradas dentro de casa).

      Quanto a escolha, nenhum anticoncepcional é 100% eficaz. Camisinhas estouram, pílulas falham, entre tantas outras situações adversas. O que tu me diz é “não faça sexo” se não quer correr nenhum risco? Ora, imagino que seja a tua opção tb, não? Além do mais, escolher o “gatinho” certo me parece uma obrigação da mulher, quando “ser um gatinho certo” puramente opcional. Não me torne leviana, quando o que mais tem no mundo é filho de mãe solteira. Monstro, tu diz? Bom, eles estão todos por aí pagando de bons moços.

      Faz o seguinte. Não quer abortar, não aborta. Não quer engravidar, não engravide. Antes de apontar o dedo, faça a tua parte – de preferência não se reproduzindo. Já que neste mundo tem machinho pronto pra jogar pedras suficiente e em excesso. E sim, o que a gente precisa é de amor e eu sigo defendendo-o, assim como a empatia. Aquela que não vi em nenhum momento no teu comentário.

      Atenciosamente, Aline Mazzocchi, autora do blog Antônia no Divã e que também atende pelo pseudônimo de Antônia Macchi. Quem não bota nome numa opinião, me parece suspeito quando diz que colocaria num filho.

      • Responder

        Leonara

        13 de abril de 2016

        Garota, sou Sua fã ???

  5. Responder

    Shirlei dos Santos

    8 de março de 2016

    Perfeito,todo mundo se esquece ou se quer sabe que para termos essa data foi preciso uma centena ou mais de mulheres morrerem queimadas , assassinadas numa fábrica americana enquanto reivindicavam seus direitos,somos fortes,mas realmente ainda somos frágeis perante a força daqueles que usam a força e nos desrespeitam e tiram nossa liberdade, perfeito …

    • Responder

      Antônia no Divã

      10 de março de 2016

      Shirlei, sua linda. Adoro te ver aqui sempre! Mulher guerreira! Audiência qualificada! <3

DEIXE UM COMENTÁRIO

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

PESQUISE AQUI