Carimbo

I ♥ SP

em
1 de setembro de 2015

São Paulo da falta de água. São Paulo do trânsito caótico. São Paulo cinza. São Paulo, terra da garoa. Convenhamos, é difícil ver alguém declarar seu amor irredutível por uma cidade superlotada, cara e poluída. O Tiete tá ali, onipresente e inoportuno, no solo, na cara e o pior, no nariz. O sol, que em qualquer lugar é sempre bem-vindo, vira um problema em São Paulo se brilhar por muitos dias seguidos, problema este que é medido em termômetros da qualidade do ar, normalmente em cores vermelhas.  São Paulo imensa. Rápida. Intensa. É um trem desgovernado, em que cabe muita gente, e todo mundo trabalha (ou tenta) o equilíbrio para manter-se em pé. Tem que ter coragem para gostar de São Paulo.

Coragem e comprometimento. É fácil gosta do Rio, cidade maravilhosa, banhada a praia e água de coco.  Tem poluição e trânsito caótico também? Tem sim, mas basta você pisar no calçadão ou assistir ao pôr do sol no Arpoador para esquecer-se de tudo isso. Fácil gostar de Florianópolis, Ilha da Magia. Fácil gostar de Porto Alegre, e de seu povo orgulhoso e educado. Se você for gaúcho então, bom, aí você foi programado geneticamente para achar Porto Alegre a melhor capital do mundo. São Paulo, não. São Paulo é um desafio diário, como um amor que dói, queima, arde, mas não deixa de seduzir, de encantar, de te fazer querer mais. Se fosse daqui dos pampas, São Paulo seria um cavalo crioulo arredio a ser domado. Andar de pônei qualquer um anda. São Paulo requer habilidade. Manha. Planejamento. Tolerância. Persistência.

O final de semana que passou não foi o primeiro contato com São Paulo. A capital já havia desafiado minha rotina em muitos momentos, todos relacionados a trabalho. Então veja, levou  30 anos para eu ver a cidade como destino de prazer.  Uma programação especial da minha revista preferida (I ♥TPM), levou-me voluntariamente a capital paulista com o objetivo único e exclusivo de gozar São Paulo. Esqueci-me dos taxis do mundo corporativo e me misturei ao povo, vivendo dias de turista, mas também de paulistana. São Paulo me tirou da bolha em que eu vivo, no conforto do meu carro. E ali, entre ônibus e trens lotados foi fácil perceber o outro. Um povo que para do lado certo da escada rolante como em Londres, dá assento aos prioritários como em Berlin, e se presta a dar informação, sem que você tenha pedido, como em Sydney.  A experiência foi surreal, para dizer o mínimo. Fiquei pensando se não estaríamos perdendo o colorido dos 20 milhões de corações pulsantes  em nossa limitada e estressada visão cinza? Preocupados com o PIB mais que o FIB – felicidade interna bruta. Olhando na televisão é fácil dizer “I ♥ Paraisópolis”, difícil é ver beleza além do engarrafamento.

Mas existe. Troco “São Paulo cinza”, por São Paulo da Avenida Paulista fechada para pedestres, em um de seus primeiros grandes passos na direção da sustentabilidade. São Paulo da explosão artística. Da cultura, que já faz ensaios de primeiro mundo. Das micro cidades em seus bairros fofinhos. Da mega metrópole que valoriza suas quitandas. Do metro que funciona. São Paulo do “é logo ali, vamos a pé”, referindo-se aos 3 km que as pessoas hoje preferem caminhar. São Paulo do Tinder/Happn cheio de iniciativa – (desculpe o meu desabafo, mas no sul os meus aplicativos não funcionam, indicando que talvez eu só ganhe “charmes” em território paulista ou que já tenha esgotado a minha cota no meu habitat natural  – OU que está faltando iniciativa mesmo por aqui! #prontofalei). São Paulo da China X inventividade brasileira na amada e odiada 25 de Março. São Paulo da moda de passarela nas ruas. São Paulo pró-amor em todas as suas cores. São Paulo do Uber e UberX. Do garçom gentil. Dos botecos. Da gastronomia de rua. São Paulo que acontece. São Paulo do “não sou conduzido, conduzo”. I SP.

Ok, talvez eu tenha cara de turista pateta ou simplesmente sorte (além da minha parcela de frias), mas o fato é que São Paulo me tratou tão bem quanto muitas capitais de primeiro mundo que tive prazer de visitar. Pode ser que meu coração de viajante seja mais tolerante até mesmo no Brasil, mas torço que não seja um frenesi temporário. Torço que esses pequenos indícios de gentileza e evolução em uma cidade voraz como São Paulo, sejam provas reais de que dá pra olhar pra esse país com um pouquinho mais de otimismo.  Nem tudo é garoa.


Fim da sessão.

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4 Comments
  1. Responder

    Ana

    4 de setembro de 2015

    Muito bom texto, como todos que vc posta. Eu nao gosto de SP, apesar de amar a eferverscência cultural que ela traz nao tenho paciência pra passar la mais de 3 dias. Só uma coisinha, “termômetro” so mede temperatura e nao qualidade do ar, “termo” = temperatura, uma opção seria indicadores de qualidade.
    Beijos
    ;*

  2. Responder

    Anônimo

    2 de setembro de 2015

    Não conheço SP, mas bom saber que pode ser alem da Metrópole que que nao para. E quanto aos aplicativos, se o Tinder/Happn nao funciona em Porto alegre pra ti, imagina aqui no interior…os homens nao tomam iniciativa.

    • Responder

      Antônia no Divã

      14 de setembro de 2015

      HAHAHAHHAHAHAHHA. RI ALTO! Tô contigo, amiga!

  3. Responder

    Anônimo

    1 de setembro de 2015

    Muito bom.

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Aline Mazzocchi
No divã e pelo mundo

De batismo, sim, Aline. Mas eu precisei do codinome Antônia - do latim "de valor inestimável" - para dividir minhas sessões públicas de escrita-terapia. O que divido aqui é o melhor e o pior de mim, tudo que aprendi no divã e botando o pé na estrada. Não para que dizer como você deve ver a vida. Mas para que essa eterna busca pelo auto-conhecimento, não seja uma jornada solitária, ainda que pessoal e intransferível. Então fique a vontade pra dividir o divã e algumas boas histórias comigo. contato@antonianodiva.com.br

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